São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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A esquerda e o câncer

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Cada um dos grandes partidos vai ler o resultado eleitoral conforme seus interesses, todos cantarão vitória e todos terão uma certa razão, exceto talvez o PMDB.
Uma das leituras permitidas indica um tão expressivo quanto surpreendente desempenho da esquerda. Mesmo que se contabilizem, à esquerda, apenas o PT, o PSB e o PC do B.
Esses três partidos levaram no primeiro turno uma capital (Porto Alegre, pelo PT) e estarão no segundo turno em dez outras, sendo que em duas delas (Natal e Maceió) é esquerda contra esquerda (PSB x PT).
Chama a atenção, aliás, o fato de o PSB, um partido que se poderia considerar "nanico", estar presente no segundo turno de quatro capitais, rivalizando, nesse âmbito, com mastodontes como o PFL.
Não sei explicar a razão, até porque a única praça forte do PSB seria Pernambuco, mas, na capital (Recife), o PSB se deu muito mal.
À margem dos motivos que explicam esse bom desempenho das esquerdas, comprova-se, uma vez mais, uma velha frase que diz que "a esquerda não se une nem na cadeia".
Mesmo com todas as mudanças pelas quais passou o mundo e as consequentes revisões de alguns conceitos antes fundamentais, prevalece, na esquerda, a fragmentação.
Só os iniciados serão capazes de entender, por exemplo, as razões pelas quais o PT de Belo Horizonte saiu com um candidato (Virgílio Guimarães) contra o candidato do PSB (Célio de Castro), que é o vice-prefeito de Patrus Ananias, eleito pelo PT.
É razoável supor que, juntos, talvez um deles tivesse liquidado a eleição já no primeiro turno. Raciocínio parecido vale para o Rio de Janeiro: candidaturas separadas do PT e do PDT enfraqueceram a esquerda a ponto de ela estar fora do segundo turno.
Parece estar na hora de a esquerda decidir o que quer ser quando crescer: uma ameba que se divide interminavelmente ou gente grande.

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