São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Kandir e Serjão

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A semana que está passando escancarou a incompetência técnica e a fragilidade do governo de FHC. Dois de seus ministros fizeram pior do que gafes: deram uma demonstração explícita de despreparo pessoal para a vida pública.
Antonio Kandir e Serjão já receberam o repúdio da sociedade pela besteira que fizeram. O homem que encerrou seu discurso de posse no ministério clamando por austeridade, austeridade, austeridade embarcou num programa de metas tão furado quanto a sua previsão de um crescimento de 9% em caso de mais quatro anos no poder.
Com a mesma leviandade, Kandir já havia previsto maravilhas iguais quando integrou a equipe que confiscou o dinheiro de todos nós. Sua sabedoria econômica, como a sociologia de FHC, não vai além do óbvio com sinais trocados.
Quanto à última do Serjão, também a sociedade o reprovou enfaticamente. As "articulações" em que se julga mestre dão algum resultado quando entra ou a sua caneta de ministro das Comunicações ou aqueles papeizinhos verdes de sua mala preta -peça fundamental de sua função como tesoureiro da reeleição.
A truculenta presença desse cidadão, anfíbio de ministro-tesoureiro, nas eleições municipais de São Paulo teve o mérito de mostrar que ele desempenha o lado sujo de um governo que gosta de se apresentar como limpo, inteligente, sem as velharias do passado.
Clone espalhafatoso daquele que é considerado seu melhor amigo, Serjão joga sujo, tem a inteligência de um abridor de latas e, em matéria de modernidade, seu visual me obriga a pensar naquela passagem das "Metamorfoses" de Ovídio: "Materiam superabat opus".
Explico o latinório: a maneira errada pela qual ele faz ou diz coisas erradas é maior do que o seu próprio erro. Ainda bem que não sou empresário para ser obrigado a colaborar com a sua caixinha para a reeleição.

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