São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Eleição de resultados

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Talvez esta seja uma eleição em que o eleitor-contribuinte tenda a se sobrepor ao eleitor-cidadão.
Uma eleição em que as imagens ligadas ao universo empresarial, como eficiência e resultado, prevaleçam sobre as que se originam da esfera estritamente política.
O prefeito-administrador sobrepujando o prefeito-politizador.
Ainda que um partido mais inclinado ao debate ideológico, como o PT, tenha colhido bons frutos, isso se deve mais à disposição para alianças, à reciclagem do discurso e à evidência de administrações competentes do que a ataques furiosos aos demônios do "neoliberalismo".
A opção por candidatos de alguma forma vinculados a obras e realizações, por mais discutíveis que elas possam vir a ser, demonstra uma propensão pragmática: a "crítica concreta" perde lugar para a "retórica do concreto".
Guardando-se as proporções, parece acontecer no plano político um giro semelhante ao que ocorreu no mundo sindical: a estratégia "de resultado" acabou preponderando e sendo absorvida pela própria esquerda, que, no passado, via nas instâncias de poder aparelhos a ser antes instrumentalizados do que propriamente administrados.
O que a eleição parece dizer para a esquerda é: "Você não vai conseguir derrubar um Maluf com ataques verbais, mas com obras que se demonstrem mais importantes e criteriosas do que as dele".
O aspecto positivo desse apelo é provocar a troca da crítica fácil e inoperante pela difícil construção de projetos alternativos -o que já acontece, por exemplo, em Curitiba e Porto Alegre.
O aspecto negativo está na constatação de que o eleitor age apenas como contribuinte e, ainda assim, pela metade: quer ver seu dinheiro transformar-se em obras, mas permanece alheio aos meios que as originam.
Parece não se importar com os movimentos financeiros, os endividamentos, as jogadas de bastidores de sua prefeitura-empresa. Se há pontes, túneis, hospitais, ótimo -ainda que tudo possa comprometer o futuro financeiro do poder público.
O exibicionismo dos perdulários suplanta sempre, no curto prazo, a sobriedade dos austeros, numa dinâmica em que a esquerda muitas vezes organiza a casa para a direita torrar dinheiro.
PS - A circunscrição do voto a questões locais de ordem prática não impede que a eleição, no segundo turno, venha, aqui e ali, a se politizar.
Em São Paulo, o oportunismo de Brasília, com vistas a um segundo mandato presidencial, parece pronto a decepcionar os cândidos.
ACM, mais uma vez, se impõe: antes um PT furibundo do que um Maluf sabotando a reeleição.

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