São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Apoio estraga planos de Cabral no Rio

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

A aproximação do governo Fernando Henrique Cardoso com o PPB de Maluf em São Paulo poderá causar fortes dores de cabeça ao candidato tucano no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho.
O segundo turno da eleição para prefeito do Rio deverá ter uma disputa acirrada entre Luiz Paulo Conde (PFL) e o candidato do PSDB em coligação com mais seis partidos, inclusive o PPB.
Nessa disputa serão decisivos os mais de 600 mil votos conseguidos por Chico Alencar do PT, votos estes desde já disputados pelos dois finalistas.
Barulho
Mas os eleitores do PT no Rio terão um argumento tanto mais forte contra a aproximação com os tucanos quanto maior for o barulho que integrantes do governo federal (do PPB e até mesmo do PSDB) fizerem a favor da candidatura de Pitta contra a de Erundina em São Paulo.
O PT deverá pregar o voto nulo no segundo turno. Espera-se somente o referendo oficial para fazer valer o que Chico Alencar, lamentando, já defendeu na sexta-feira.
O que não quer dizer que a maioria dos eleitores do PT vá anular o voto na nova disputa.
Independentemente das relações PSDB/PPB em São Paulo, é possível obter um indicativo de como poderá ser a divisão do bolo petista no Rio observando os números da pesquisa DataFolha realizada antes do primeiro turno, quando se aferiu o grau de rejeição dos eleitores em relação a todos os candidatos que estavam no páreo.
Números
Os números indicam que os eleitores petistas rejeitam menos Cabral do que Conde.
Na pesquisa, 44% dos eleitores do PT disseram que não votariam de jeito nenhum em Conde, e 36% afirmaram que nunca escolheriam Cabral.
Há mais um elemento que será decisivo para a escolha final que é a flutuação que ocorrerá de eleitores de Conde para Sérgio Cabral, e vice-versa.
Votos de Miro
Nesse caso, o indicativo da pesquisa é que 33% dos eleitores de Conde rejeitaram Cabral e 26% dos eleitores deste último rejeitaram o primeiro.
Há ainda os votos de Miro Teixeira (cerca de 250 mil) e dos demais 10 candidatos derrotados, que, juntos, somam algo em torno de 140 mil eleitores.
Conde fez suas as palavras do "padrinho" César Maia, para quem não se farão alianças negociando cargos.
Cabral terá o governo federal como obstáculo à aproximação necessária com o PT. Conde assumiu o risco de tentar revogar a lei, sagrada em política, do toma-lá-dá-cá.
Vexame
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro protagonizou uma das mais desastradas apurações deste pleito.
Nos últimos dois meses, o presidente do Tribunal, Antonio Carlos Amorim, fez pessoalmente o papel de divulgador das eleições informatizadas e "à prova de fraude", aparecendo com uma frequência até exagerada em emissoras de rádio e na televisão.
O vexame das fraudes registradas nas últimas eleições não voltou a ocorrer.
Atraso
Mas a apuração atrasou muito além do razoável por conta de problemas de informática que estranhamente não ocorreram em outros Estados, pelo menos nessa escala.
Tudo indica que, no Rio de Janeiro, tenha havido falhas na preparação dos equipamentos e no treinamento e capacitação do pessoal técnico responsável pelas eleições municipais.

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