São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Continuísmo só cresce nas metrópoles

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Repetidamente declamado na imprensa e pelos políticos interessados na emenda da reeleição como a marca desse pleito, o continuísmo apareceu com força só nas dez maiores cidades do país.
Em seis delas o candidato do prefeito conseguiu se eleger já em 3 de outubro ou, na pior das hipóteses, pôde passar ao segundo turno da eleição.
Mesmo que nenhum dos três prefeituráveis governistas que se encontram nessa situação consigam se eleger em 15 de novembro, já terá havido um continuísmo maior (30%) do que o do pleito de 1992.
Naquela eleição, só dois prefeitos conseguiram eleger seus sucessores: Jaime Lerner (PDT) em Curitiba e Olívio Dutra (PT) em Porto Alegre. Desta vez, os sucessores repetiram a façanha, e sem precisar recorrer ao segundo turno.
As duas cidades têm administrações com estilos definidos e programas premiados em concursos internacionais, como o orçamento participativo de Porto Alegre e o programa de reciclagem do lixo de Curitiba.
Uma outra capital poderia ser enquadrada nesse grupo: Fortaleza, onde o PMDB ganhou o direito -de novo no primeiro turno- de ir para a sua segunda administração num Estado dominado pelos tucanos.
Nas duas maiores cidades do país, a participação do representante do prefeito no segundo turno de votação tem outra explicação. Tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, as administrações em curso foram marcadas por obras -muitas e vistosas.
O carioca Cesar Maia (PFL) e o paulistano Paulo Maluf (PPB) foram diretamente beneficiados pela estabilidade da moeda propiciada pelo Plano Real. A redução drástica das importações e a contenção do câmbio acabaram por gerar mais receita para suas respectivas administrações.
Mais recursos implicaram mais obras. Para sorte de Maia e Maluf, as mudanças econômicas geradas pelo real vieram a partir do terceiro ano de seus mandatos, em tempo para que inaugurassem, antes da eleição, as obras que iniciaram.
Sinal de que o sucesso político desses dois prefeitos está relacionado a essas obras é que, nos dois primeiros anos de mandato, os dois registraram índices apenas regulares de popularidade.
O mesmo fenômeno de multiplicação das verbas orçamentárias não se repetiu nas cidades menores. Tanto que São Paulo, após anos consecutivos de perda de participação relativa na economia do Estado, recuperou parte de sua importância econômica desde 94.
Coincidência ou não, nas cidades onde o aumento de receita ocorreu num ritmo mais lento, o continuísmo político-eleitoral foi menos marcante.
Se levadas em conta as 50 maiores cidades do país, o percentual de prefeitos que conseguiu eleger o sucessor ou colocá-lo no segundo turno cai para 40%. É um crescimento modesto em relação a 1992, quando o percentual foi de 34%.
Nas cem maiores cidades, o continuísmo cai ainda mais: 37,5%.

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