São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Maluf vai deixar o bom-mocismo do 1º turno de lado e partir para o ataque

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Para o segundo turno, sai o bom-mocismo que o PPB martelou no primeiro turno e entram os ataques diretos à adversária, Luiza Erundina (PT).
É claro que o prefeito Paulo Maluf nega que vá adotar o que chama de "baixaria", até porque supõe que "foi ela que liquidou o Serra".
Mas ele próprio acrescenta: "Uma ou outra coisa vamos ter que lembrar, como o fato de que houve mês, no período Erundina, em que morreu mais gente no Hospital Municipal do Tatuapé do que no Carandiru".
É uma alusão à morte de 111 presos no presídio do Carandiru, durante rebelião ocorrida em 1992.
Maluf diz que "Erundina tem um grande telhado de vidro", conta que o PPB já recebeu "muito material contra ela", mas garante que fará dele uso muito restrito.
"Podemos dizer, por exemplo, que lemos na Folha que a CMTC, na gestão dela, fez estoque de arruelas para 120 anos."
Erundina, de seu lado, não mostra maior inquietação com os eventuais ataques do malufismo.
Acha que é "absolutamente transparente" e que todos os problemas surgidos na sua gestão já foram expostos e, acima de tudo, "investigados e punidos pela própria prefeitura".
Erundina não antecipa se vai responder a eventuais ataques com outros ataques do mesmo gênero.
No PT, há um certo receio em adotar essa tática. O historiador Marco Aurélio Garcia, da direção nacional, admite que "o papel de bom moço desempenhado pelo Pitta tem um certo apelo".
Por isso, Marco Aurélio recomenda "agressividade substantiva e não adjetiva".
Traduzindo: evitar o comportamento, por exemplo, do ministro Sérgio Motta, que chamava Maluf de corrupto, e atacar investimentos que o PT considera equivocados. Parece ser a tática preferida da própria Erundina. Ela acha que Maluf foi competente em "vender muito mais do que realmente fez".
Corrupção x obras
É por esse caminho que o PT pretende "polarizar todo o sentimento antimalufista", como diz Marco Aurélio. O que, inevitavelmente, significa tentar composição se não com todo o PSDB, pelo menos com algumas de suas lideranças.
O sentimento antimalufista está, de fato, muito presente no PSDB. O secretário-geral nacional do partido, deputado Arthur Virgílio Neto (AM), antecipa que, se for chamado a opinar, defenderá uma aliança com o PT, "contra o Maluf, seu candidato de plástico e seu fascismo via mídia eletrônica".
O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), chama o malufismo de "predatório", embora considere "uma coisa delicada" aliar-se ao PT.
O próprio PT não imagina uma aliança formal, mas cobra pelo menos do governador Mário Covas a retribuição ao apoio que Erundina deu a ele, no segundo turno estadual de 94, antes mesmo que o PT fixasse posição.
Covas, que já disse várias vezes que não vota em Pitta "nem carregado", valoriza a posição de Erundina dois anos atrás, mas lamenta: "O que o PT tem me feito, como governador, não está escrito".
E sai pela tangente com a clássica observação de que precisa "consultar as bases".

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