São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Sindicato quer ação contra candidatos

Entidade considera 'trabalho escravo'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Sindicato dos Trabalhadores Temporários e Prestadores de Serviços vai encaminhar à Justiça uma série de pelo menos 400 ações contra comitês eleitorais em São Paulo.
No entendimento do sindicato, que é filiado à Força Sindical, muitos políticos, durante a campanha, mantiveram os seus "cabos eleitorais" em um regime que pode ser considerado "trabalho escravo."
O presidente do sindicato, Edno Oliveira, está em campanha permanente, há três meses, para incentivar os "cabos eleitorais" a cobrarem indenizações na Justiça dos candidatos a prefeito e vereador.
Piso salarial
Segundo levantamento do sindicato, cerca de 4.000 pessoas trabalharam nos comitês ou nas ruas, distribuindo propaganda eleitoral ou agitando bandeiras dos partidos políticos.
Por esses serviços eleitorais, o mínimo que deveriam receber, segundo o sindicalista, seria R$ 280 -que é o piso salarial dos trabalhadores temporários.
Para o sindicato, essas pessoas deveriam ter registro trabalhista, e os partidos seriam obrigados a recolher impostos correspondentes as suas funções.
Testemunhas
Edno Oliveira fez uma intensa campanha para "enquadrar" os políticos que exploram o exército de desempregados que prestaram serviços em período de campanha eleitoral.
Nos últimos dias, a equipe do sindicato escalada para orientar os "cabos eleitorais" já foi procurada por 200 pessoas interessadas em acionar os partidos e candidatos.
A principal dica dos sindicalistas é para que essas pessoas procurem testemunhas de que foram "exploradas" pelos comitês durante o período de campanha.
O sindicato, que reúne trabalhadores temporários também de feiras e convenções, quer profissionalizar as atividades desenvolvidas para ajudar partidos políticos.
A atitude inédita de cobrar "ética" nos pagamentos de funcionários de campanhas, segundo Oliveira, vai ter o seu papel pedagógico já no segundo turno das eleições municipais, que acontece no dia 15 de novembro.
Além do pagamento por valores inferiores, o sindicalista chama a atenção para os casos de calote.
Esses episódios, comuns ao final das jornadas eleitorais em todo o país, também será um dos alvos das ações na Justiça Trabalhista.
Ao saber da campanha por cobrança aos comitês, pessoas como o desempregado Antonio Carlos Silveira, morador do bairro do Itaim Paulista (zona leste de São Paulo), já providenciou as testemunhas para ir à Justiça do Trabalho.
"Trabalhei para três candidatos a vereador, dois do PPB e um do PDT, e nenhum deles me pagou um centavo", disse. "Ficou só na promessa".
Ele não cita os nomes dos políticos, sob o argumento de que vai processá-los primeiro.
Cartilha
Irregularidades com funcionários de campanha mobilizam também o Conselho Federal de Contabilidade, órgão que ajudou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 1994, a adotar o sistema de "bônus eleitorais".
Em uma cartilha com procedimentos corretos para os comitês, o conselho estabelece regras e até formulários para o relacionamento e contratos entre os candidatos e as pessoas contratadas para trabalhar nas eleições.

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