São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Pronto-socorro é escola para 38%

AURELIANO BIANCARELLI; ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O excesso de escolas médicas e a pouca importância que se dá às matérias humanísticas nas faculdades seriam os responsáveis pela deterioração na relação entre médico e paciente.
O Brasil tem hoje 84 escolas e outras 14 estão na fila aguardando autorização para abrir. São 8.000 novos médicos por ano, mas apenas 62% deles conseguirão ser aprovados em residência médica.
"Os outros 38% vão aprender nos prontos-socorros, uma porta perigosa aberta pelo mercado", diz Pedro Henrique Silveira, presidente do CRM. "É o momento em que o paciente e os familiares mais precisam de apoio e aí encontram o médico menos experiente. É dos prontos-socorros que recebemos o maior número de denúncias."
Pesquisa do CRM mostrou que os plantonistas de prontos-socorros recebem os menores salários, trabalham nas piores condições e são os mais estressados.
Segundo os médicos, as matérias humanísticas e aquelas ligadas à ética são as menos prestigiadas e que têm menor peso nas escolas de medicina. "A bioética, ou ética da vida, não tem importância perto dos conhecimentos técnicos", diz Erivalder Guimarães, do sindicato dos médicos. "É a inversão dos valores. A máquina ganha mais importância que o homem."
A situação se agrava nas faculdades menos preparadas e sem professores experientes. "As escolas que não têm condições deveriam ser fechadas pelo governo."
Pelos dados da Organização Mundial da Saúde, o país já tem médico sobrando. Há um profissional para cada 600 habitantes, quando o OMS prevê a relação de um para mil.
(AB e RSc)

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