São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Economista anuncia 'morte' da economia

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

As previsões econômicas raramente se confirmam, as teorias quase nunca se aplicam à prática e os "conselheiros" normalmente são burocratas que pregam o liberalismo apenas para os outros.
Esse é o perfil traçado pelo professor Paul Ormerod, da Universidade de Manchester (Inglaterra), sobre os seus próprios colegas.
"As limitações dos economistas estão ficando cada vez mais claras. Temos que encarar a economia mais como um ser vivo, não como uma máquina", disse Ormerod em entrevista à Folha.
O mais recente livro de Ormerod, "A Morte da Economia", está sendo lançado no Brasil.
Para ilustrar sua teoria, ele cita o caso do fim do comunismo na União Soviética.
"É um bom exemplo de como não adianta só dizer: 'Privatize e deixe o livre mercado ir adiante'. Não é tão simples, e a maioria dos economistas convencionais continua achando que é", afirmou Ormerod, 46.
Simpatias
Com o livro, lançado em Londres há três anos, ele disse ter criado poucos desafetos.
"Alguns rejeitaram o livro, mas a maioria foi simpática, porque sabe que há sérios problemas, que têm que ser discutidos."
Para o ex-consultor da revista inglesa "The Economist", o caminho da modernização dos economistas é parar de querer aplicar a teoria do livre mercado a qualquer custo.
Ormerod defende o aumento do protecionismo e dos subsídios do governo como o caminho para o desenvolvimento.
"O desenvolvimento da Europa Ocidental -que podemos dizer que deu certo, apesar dos problemas- não ocorreu aplicando as regras do livre comércio, mas altos níveis de protecionismo."
E acrescenta: "Quem é protecionista viola as leis da economia, mas as empresas mais bem-sucedidas tiveram esse resultado graças a sua habilidade de criar um mercado próprio e fechado".
Receita
Ormerod dá uma receita para o Brasil. "Privatizações e liberalismo puro não resolvem os problemas. Protecionismo e subsídios podem ajudar -sem perpetuar a ineficiência-, mas para estimular os produtores internos. Não foi assim com os produtores de carros japoneses?"
Críticas ao FMI
Ormerod critica instituições conselheiras, como o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Eles ainda são governados por princípios do livre mercado. Aconselham o corte nos gastos públicos, mas os seus próprios salários aumentaram", diz.
"Isso ocorre também com economistas nas universidades, que ensinam os benefícios do livre mercado, mas não concordam com cortes dos gastos do governo em seus salários", conta Ormerod.
Na opinião do economista da Universidade de Manchester, o desemprego é o principal desafio dos governos e dos economistas hoje, e não há modelos para resolver o problema -cada país tem que achar a sua fórmula.
"Alguns querem reduzir o tempo de trabalho, outros empregam pessoas no Estado e outros aumentam os preços dos serviços para poder ajudar os desempregados", afirma Ormerod.
Para o economista, não há uma única solução. "Mas o fato é que você tem que empregar essas pessoas em algum lugar. Se gastar menos, melhor. Mas não há como não gastar."

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