São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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NE cresceu mais que Brasil em 1970/95

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Pernambuco foi o Estado nordestino que menos cresceu no período de 1970 a 1995, segundo estudo realizado pela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e divulgado ontem em Recife (PE).
A taxa média anual do crescimento econômico em Pernambuco foi de 5,1%.
No mesmo período, segundo a Sudene, o Nordeste cresceu a uma taxa média anual de 5,8%, superando o crescimento médio do Brasil no período, que foi de 4,6%.
"Esses índices mostram que o Nordeste não pode ser encarado como uma região atrasada, sorvedoura de recursos. É uma região com um potencial fantástico de crescimento", disse em São Paulo o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega.
Para ele, o Nordeste "está rompendo" com a "cultura do paternalismo, do assistencialismo estatal, da idéia de que só se cresce com apoio do governo federal".
O PIB nordestino é de pouco mais de R$ 100 bilhões e corresponde a cerca de 16% do PIB nacional. A região tem aproximadamente 45 milhões de habitantes.
Setor de serviços
A avaliação da economia nordestina mostra que a região continua sendo "mais consumidora do que produtora", segundo o economista Heródoto Moreira, 52, coordenador do Departamento de Informações para o Planejamento da Sudene, que realizou o estudo.
Se esse perfil não for alterado, considera Moreira, o Nordeste permanecerá uma região "dependente do Sul/Sudeste".
"Aos grandes grupos do Sul/Sudeste é economicamente interessante que o Nordeste continue assim. Eles produzem os bens e o Nordeste consome", disse ele.
"Isso não significa que esses grupos estejam agindo com qualquer interesse escuso. É uma regra do jogo capitalista", acrescentou.
Para Mailson da Nóbrega, esse argumento "é uma visão de autarquia, insuficiente para entender o processo em curso".
"Uma região consumidora atrai investimentos e gera desenvolvimento", disse Nóbrega.
Desde o início de 1995, segundo os governos estaduais, foram instaladas mais de 600 empresas de médio e grande portes no Nordeste, com investimentos superiores a R$ 6 bilhões. Um dos principais atrativos dos Estados para captar investimentos é a isenção fiscal.
O Rio Grande do Norte, por exemplo, chega a conceder isenção de ICMS para um prazo de até 20 anos.
Modernização cearense
Para ter uma avaliação mais exata do perfil recente da região, o estudo -intitulado "Agregados Econômicos Regionais - Variáveis Macroeconômicas"- analisou também o crescimento dos Estados no período de 90 a 95.
Nos últimos anos, o Estado que assume a liderança com maior crescimento é o Ceará, com 5,3% ao ano.
"O Ceará está dando uma demonstração irrefutável de que a criatividade nas políticas governamentais e a agressividade no marketing são mais importantes do que qualquer outro incentivo", disse Mailson da Nóbrega.
O Rio Grande do Norte teve o segundo maior crescimento, com 4,1%, seguido pelo Maranhão, com 2,9%.
Nesse período, o crescimento de Pernambuco continua sendo menor do que o da maioria dos outros Estados -apenas 1,5% em média ao ano, o que lhe coloca em 7º lugar, acima apenas do Piauí (1%) e de Sergipe (0,7%).
No mesmo período, o crescimento médio anual do Nordeste foi de 2,6%, e o do Brasil, 2,7%.
Discrepâncias
O crescimento do Rio Grande do Norte foi causado por dois fatores, segundo Moreira. O primeiro são os investimentos feitos pela Petrobrás no Estado, que tem as maiores taxas de crescimento na produção de óleo bruto e gás natural do país.
O segundo é a prioridade dada pelo Estado à indústria têxtil e de confecções.
Já o fato de Pernambuco ter tido o menor crescimento, segundo Moreira, explica-se pelo fato de que os setores industriais mais tradicionais do Estado, como o têxtil e o sucro-alcooleiro, não conseguiram se modernizar e hoje estão em crise. Alagoas foi parcialmente poupado, neste particular, pois a crise é menor nas usinas de cana do lado alagoano da divisa.
Pernambuco também só recebeu um grande investimento público nesses 25 anos -o porto de Suape, que absorveu R$ 300 milhões.

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