São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Boavista vira "paulista" e avança na reestruturação

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O Banco Boavista, único banco de varejo de médio porte com sede no Rio, está em fase de reestruturação e ganhou contornos "paulistas" nos últimos dois anos.
Além de o número de agências em São Paulo (27) ter ultrapassado o do Rio (20), a direção do Boavista contratou quatro executivos do mercado paulista para integrar a equipe que vai comandar a nova fase do banco.
O economista carioca Alfredo Lamy, 41, formado no próprio Boavista, é quem está comandando a nova fase do banco, no cargo de vice-presidente-executivo, para o qual foi nomeado em abril.
A presidência continua nas mãos de Linneo Eduardo de Paula Machado, da família que detém o controle acionário do banco, mas a gestão da empresa está a cargo de profissionais do mercado.
Lamy define a nova fase do banco como de "consolidação do crescimento". De 94 até a metade deste ano, o banco carioca abriu 40 novas agências, aumentando o total de 30 para 70, sendo 61 delas concentradas nos Estados do Sul-Sudeste.
O patrimônio líquido do banco passou de US$ 40 milhões em 1991 para US$ 350 milhões atualmente, o que o coloca, segundo Lamy, em 16º lugar entre os bancos privados brasileiros.
Estratégia
Alfredo Lamy disse que, com a expansão, o Boavista passou de banco de atacado (exclusivo de grandes clientes) para um banco de varejo, com vocação para operar com médias empresas e pessoas físicas com renda mensal acima de R$ 3.000.
Segundo Lamy, o processo de expansão do banco foi interrompido por decisão estratégica. Ele disse que o número de 70 agências, atingido em meados deste ano, é o total que o banco considera ideal para o porte que desejava atingir.
Hoje, o banco tem uma média de aproximadamente 1.400 clientes por agência e seus dirigentes esperam elevar essa média para entre 2.000 e 3.000 clientes.
Quanto aos lucros, Lamy disse que o banco projeta para este ano uma lucratividade de 20% sobre o patrimônio, o que daria um lucro de aproximadamente R$ 70 milhões, número que considera bom.
No fechamento do balanço do primeiro semestre de 96 os ativos totais eram de R$ 3,6 bilhões, 21% maiores que os do segundo semestre de 95. As operações de crédito eram de R$ 1 bilhão.
O lucro líquido do período foi de R$ 32,3 milhões, 103% maior que o do segundo semestre de 95, mas 69% menor que o do primeiro semestre do mesmo ano. O número de clientes passou de 40 mil em 94 para quase 100 mil agora.
O número de empregados do banco está em 2.200, segundo Lamy, o mesmo da época das 30 agências, e não há perspectiva de ajuste nessa área.
Antes da expansão, 26 das 30 agências do banco estavam concentradas nos Estados do Rio (15) e São Paulo (11). Hoje, segundo o diretor-executivo comercial, Pedro Pedreira, 49, o banco está presente nas principais capitais e cidades médias do país.
Pedreira é um dos quatro executivos paulistas tirados do Banco Excel (atual Excel-Econômico) para reformular o Boavista.
Os outros três são Luiz Carlos Briani, 38, diretor-executivo de Crédito; Jorge José Gonçalves de Miranda, 40, diretor de Administração das Agências; e Luiz Carlos Pizone, 48, diretor de Recuperação de Crédito.
Inadimplência
Um dos objetivos da equipe é recuperar pelo menos parte das perdas de créditos concedidos até 95.
A inadimplência, segundo Lamy, chegou a 12%, levando o Boavista a fazer no seu balanço do ano passado uma provisão para créditos duvidosos de R$ 120 milhões.
O vice-presidente-executivo do banco argumenta que, como já houve provisionamento -que, em termos contábeis, significa reconhecimento do prejuízo-, o que for recuperado irá direto para o lucro.
Mas a principal tarefa da nova equipe, segundo Lamy, é fazer a sintonia fina para que o banco mantenha uma postura aberta à concessão de créditos, mas com a seletividade necessária para evitar a repetição das perdas de 95.
A direção do banco avalia que a estabilização veio para ficar e que ganhará dinheiro no setor quem melhor souber avaliar os riscos de crédito para financiar a retomada do crescimento.

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