São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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O ritual da autopromoção

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Acaba de ser lançada pela Editora Rocco a terceira biografia do tenor italiano, na qual ele conta suas peripécias nos últimos 15 anos. Pavarotti é uma unanimidade, um mito, como Callas. Mesmo quem não gosta de ópera adora Pavarotti. Além disso, assim como outros grandes tenores, Pavarotti canta também música folclórica e popular.
Além de possuir uma das vozes mais potentes do século, Pavarotti viaja pelo mundo todo, sendo conhecido até em Pequim.
Mas o livro deixa a desejar. Escrito certamente por Wright numa linguagem clara e agradável, este não é um livro de Pavarotti nem mesmo sobre Pavarotti, mas de como ele gostaria de ser. O livro o apresenta como um homem simples e até ingênuo e filantropo.
No entanto, seu cachê é um dos mais caros do mundo, e Pavarotti faz parte do mundo vip internacional, que ele adora. Assim, ele fez questão de contar em detalhes seu jantar com a rainha Elisabeth e sua amizade com a princesa Diana. O autodeslumbramento começa já no "Prefácio", em que diz: "Graças ao dom de minha voz... tenho tido uma vida maravilhosa e fora do comum"; e ainda "quero contar às pessoas... tudo o que aconteceu de divertido e excitante nesses anos."
Além disso, Pavarotti não tem o menor escrúpulo em lembrar como as pessoas o amam e como ele é famoso. Seu ego é gigantesco. Conhecido por suas gravações, CDs, vídeo e TV, sua maior preocupação neste livro é apresentar uma bela imagem de si mesmo, mostrando seu bom humor, simplicidade, espírito esportivo e paixão pela gastronomia e belas mulheres.
A maior parte do livro narra suas andanças cantando ópera nos maiores teatros do mundo nos últimos 15 anos, as pessoas que conheceu, os acontecimentos pitorescos. Mas o aspecto auto-apologético, principalmente nessa parte, é que dá a tônica do livro. Apesar de tudo, o livro é agradável, embora vá mais para o lado da ficção e não ensine nada sobre ópera ou sobre sua biografia. É ideal para se ler na praia no Guarujá.

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