São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Estudos discutem nicotina e sexo oral

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Este artigo contém na realidade os resumos de duas notas científicas diversas. Refere-se uma à possibilidade de enquadramento da nicotina entre as drogas viciadoras, como a cocaína e a heroína. A outra cuida do sexo oral na Aids.
Na primeira, publicada na revista "Nature", um grupo de cientistas da Universidade de Cagliari (Itália), chefiado por Gaetano di Chiara, injetou em ratos, por via intravenosa, pequena quantidade de nicotina, equivalente à tragada de um cigarro por um adulto.
A seguir observou os efeitos desse experimento no núcleo acumbente, parte do cérebro que em geral se relaciona com a formação de hábito.
Os cientistas observaram forte descarga do neurotransmissor dopamina na camada mais externa do núcleo, região fortemente dotada de relação com a amígdala cerebral, centro emocional de grande importância.
Comportamento praticamente idêntico fora antes observado pelo grupo de di Chiara com a injeção de cocaína, morfina e anfetaminas.
O cérebro não parece distinguir entre as drogas viciadoras, que criam dependência, e as que simplesmente provocam hábito (mau, sem dúvida, no caso do fumo).
Na comunidade homossexual é muito comum a idéia de que o sexo oral é menos perigoso do que o anal. E logicamente assim deveria acontecer porque este último produz arranhões na mucosa do reto que facilitam a passagem do vírus da Aids (HIV).
Mas assim não acontece, pelo menos segundo artigo publicado na revista "Science". Cientistas do Dana-Farber Cancer Institute e da Tulane University, Boston, tentaram infectar 15 macacos sedados com o vírus SIV, parente muito próximo do HIV.
Para simular o sexo oral, os pesquisadores pingaram solução contendo SIV na língua de sete animais.
Para comparação, aplicaram o vírus simiano em oito animais, porém na mucosa do reto. Verificaram que era preciso muito menos vírus para infectar via oral. A diferença é enorme: 6.000 vezes menos vírus. Cabe ressaltar que os pesquisadores não provocaram arranhões no reto dos macacos.
Esse ponto de vista é hoje aceito pelos epidemiologistas oficiais norte-americanos, que na década passada consideravam que era mais perigosa a via retal.

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