São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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A integração das Américas

FERNANDO BEZERRA

A criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) representa um empreendimento de indiscutível magnitude. Como alertou a Folha em editorial, sendo uma associação com "o mais suculento mercado do mundo", também corresponde a uma parceria na qual os EUA, sozinhos, "representam 75% do PIB somado dos 34 países da América". Por se tratar de assunto tão crucial para os nossos destinos, porém, creio ser oportuno destacar a participação ativa que o empresariado industrial brasileiro procura ter na atual fase de discussões.
O compromisso de formação da Área de Livre Comércio das Américas foi firmado na Cúpula das Américas, em dezembro de 1994, em Miami. Desde então, têm sido realizadas reuniões regulares, a nível ministerial (Denver, EUA, em 1995 e, em março do corrente ano, em Cartagena, Colômbia). Nessa última, foi criado o Fórum Empresarial das Américas. A próxima reunião desse fórum terá lugar em Belo Horizonte, em maio do próximo ano.
A integração das Américas é parte de nossa estratégia. Mas temos clareza quanto ao fato de que seu sucesso dependerá de objetivos realistas. A falta de realismo em políticas de integração, como ocorreu no passado com a Alalc, evidencia que, longe de conduzir aos resultados pretendidos, serve apenas para trazer frustrações. Nesse particular, contudo, o Brasil tem uma grande experiência de sucesso: o Mercosul. É a partir dessa iniciativa que devemos trabalhar pela integração das Américas.
O que aprendemos consiste numa evidência que parecia óbvia, mas só aparece como tal quando plenamente vivenciada. Primeiro, a integração deve estar sustentada por interesses mútuos. O processo deve ser trabalhado como um meio para o desenvolvimento de todos os países envolvidos.
Segundo, é essencial que combinemos prudência com audácia. Se acreditamos que a inserção na globalização será tanto mais vantajosa quanto sejamos capazes de acompanhar a tendência à formação das aglomerações, não podemos revelar timidez. Mas os passos precisam ser fixados com realismo. Nesse particular, o Mercosul tem sido um extraordinário campo de treinamento para os empresários brasileiros.
Desse modo, a questão é como manter o ímpeto que inspirou a Alca, garantir o objetivo de longo prazo e criar condições para a expansão do comércio na região. Para tanto, precisamos ter clara compreensão do que é prioritário e estratégico. Para continuar avançando sem precipitações, a prioridade deveria consistir na "infra-estrutura do comércio". Cumpre-nos nos concentrarmos nos temas que têm impacto no curto prazo e podem interessar a todos.
Como entidade empresarial responsável pela organização temática do Fórum de Belo Horizonte, a CNI iniciou amplo processo de discussão no interior da indústria brasileira, e estamos promovendo seminários, estudos, de modo que as nossas posições não sejam mero reflexo do receio ao desconhecido. Acredito que seremos bem-sucedidos. Especialmente porque a sociedade brasileira vem sendo conscientizada de que se trata de uma oportunidade única que não deve ser desperdiçada.

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