São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Juros e terra arrasada

LUÍS NASSIF

Existe vacina contra aftosa com os fabricantes, mas não existe no mercado. Motivo: a rede distribuidora está praticamente quebrada, por efeito da política de juros.
O mesmo quadro ocorre com farmácias independentes, lojas de CDs, pequenas sapatarias, redes de concessionárias de veículos e assim por diante.
É bobagem o presidente da República e o ministro da Fazenda afirmarem que a crise se restringe aos grandes centros industrializados.
O interior permanece quebrado. O aumento da inadimplência de pessoas jurídicas mostra que o processo ainda não foi estancado e revela uma face cruel das políticas econômicas atuais.
O futuro está chegando de maneira promissora -e a coluna tem reconhecido. Mas o presente está ao deus-dará -especialmente para o segmento de pequenas empresas.
No âmbito da Fazenda, há pessoas trabalhando para construir novos mecanismos financeiros modernos.
No âmbito do Banco Central, nenhuma providência foi tomada para amenizar os efeitos imediatos do chamado "empoçamento" de liquidez sobre as micro, pequenas e médias empresas.
Cria-se uma situação esquizofrênica para as vítimas do processo. Vê-se o novo sendo criado, mas não se constrói nenhuma ponte que leve centenas de milhares de pequenas empresas a um porto seguro.
É como se o estancamento total do crédito fosse mero problema entre bancos e clientes e não uma questão nacional, que dissesse respeito ao governo e ao Banco Central.
Se política monetária é mera questão de juros dos títulos públicos, sugere-se a substituição do BC por uma boa mesa de open.
TV Bandeirantes
Nos debates do dia das eleições, a emissora levou ao ar a deputada Marta Suplicy e, logo em seguida, seu marido, o senador Eduardo Suplicy.
Nenhum candidato ou partido sentiu-se discriminado ou prejudicado pela coincidência.
Mesmo assim, um procurador regional eleitoral fez representação junto ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), solicitando que a emissora fosse advertida.
Um juiz entrou em contato com os diretores de jornalismo, recomendando maior equilíbrio na distribuição dos entrevistados.
No final do dia, a emissora foi suspensa por 24 horas, sob alegação diversa. O problema não era eventual desequilíbrio entre partidos, na definição dos entrevistados, mas a proibição pura e simples de qualquer forma de debate.
Se uma emissora transgride algum item da lei, é julgada e está sujeita a penalidades diversas.
Suspensões têm efeito meramente cautelar, de impedir a ocorrência de eventuais danos a terceiros, enquanto se julga o mérito da acusação.
A emissora foi suspensa às 16h30. Faltando meia hora para o encerramento das eleições, nenhum eleitor poderia ser sugestionado nos 30 minutos seguintes, porque já estava na rua, a caminho de sua seção. Muito menos nas 23 horas e meia depois, por não haver mais eleições.
No final do dia, a suspensão de 24 horas foi encolhida para duas horas e meia.
O início do sistema eletrônico de votação é uma data histórica.
Mas a maneira como o TRE de São Paulo agiu demonstra que não há poder institucional que consiga se livrar da arrogância do sucesso.

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