São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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O Sparafucile de FHC

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Pelo menos em matéria de transparência, o governo de FHC está sendo melhor do que o de Collor. Sabia-se que nas entranhas do regime collorido havia um tubarão deslizando em águas escuras. Não vinha à tona, ficava submerso, devorando peixes graúdos. Deixava as sardinhas lá de cima para os apetites do segundo escalão.
No regime do tucanato, o neotubarão está que nem aquele craque que cobrava córner e cabeceava para o gol. O ministro-tesoureiro atua nas águas profundas desde a campanha que elegeu FHC, campanha que ainda não acabou, que ameaça prolongar-se até 1998. Tubarão chegado à galhofa, em momentos críticos ele vem à superfície e faz estragos.
O último desses estragos foi precipitar o sepultamento eleitoral de José Serra. Com a truculência de sargento de filme americano, ele baixou o nível da sucessão municipal em São Paulo, ofendeu a dignidade pessoal de Erundina, numa grosseria que provocou repúdio nacional. Poucas vezes um homem público, no Brasil, sofreu tamanha rejeição moral.
No entanto ele continua firme no ministério. O presidente diz que o problema é de confiança, e ele tem confiança no seu proclamado melhor amigo. De duas uma: ou FHC aprecia esse tipo de atuação do ministro, ou apenas o suporta por força de alguma coisa parecida com chantagem.
Nos dois casos é lamentável. Se FHC se diverte e secretamente aprova os desvarios do amigo, revela que, apesar da pose, é igual a ele. Na segunda hipótese, FHC até que gostaria de se livrar do ministro. Mas não tem condições de se livrar do tesoureiro do qual é refém.
Daí que a transparência do governo tucano pode ser considerada maior do que a de Collor. Com FHC apoiando o estilo do seu tesoureiro ou dele sendo constrangido prisioneiro, fica evidente de onde vem o poder de seu Sparafucile.

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