São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paulo Coelho afirma que não se sente "inteiramente feliz"

RAUL MOREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM ROMA

Trezentos mil reais. Foi o que ganhou da editora Bompiani o escritor carioca Paulo Coelho, 49, sobre os direitos de "Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei", lançado na semana passada, em Roma, na Itália.
"Na América Latina, sua notoriedade é comparada à de Gabriel García Márquez", diz o prefácio do livro.
"O Alquimista", da mesma editora, já vendeu mais de 300 mil exemplares no país.
Segundo o próprio Paulo Coelho, uma outra editora teria oferecido R$ 500 mil pelos direitos. O "mago" disse que não aceitou por questões éticas.
O prestígio de Coelho na Itália pode ser sentido pelo número de entrevistas dadas desde que chegou: uma média de oito ao dia nos mais diversos veículos, do tradicional "La Repubblica" à Radio Vaticano.
Paulo Coelho também participou do "Domenica In", uma espécie de programa de auditório da RAI, cadeia estatal italiana de rádio e televisão em que desfilam grandes astros nacionais e internacionais.
Também em Milão, foi convidado do estilista Elio Fiorrucci para uma noitada beneficente no teatro Smeraldo, para a qual eram esperadas 1.200 pessoas.
"A moda e a literatura vão se unir na luta contra as drogas", diz Coelho.
Em Roma, durante a apresentação do livro, o "mago", falando em inglês e com direito a uma intérprete, hipnotizou uma fauna de intelectuais e curiosos na tradicional livraria Bible.
Ao público, Coelho falou do seu passado e das transformações da sua vida sem esconder sua relação com a Igreja.
À Folha, falou de sua "peregrinação" pela Europa, mas evitou comentar sua posição sobre o aborto e a flexibilidade de alguns governos europeus quanto à questão do homossexualismo, práticas condenadas pelo Vaticano.
Leia a seguir a entrevista de Paulo Coelho à Folha.
*
Folha - A venda de "O Alquimista" na Itália é um bom prenúncio para "Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei"?
Paulo Coelho - Você viu a interação da platéia italiana. Tudo isso me toca profundamente.
Folha - O mago fala a linguagem universal ou o que as pessoas querem ouvir?
Coelho - Boa pergunta. Eu falo o que talvez eu queira ouvir, no sentido de que eu procuro refletir o que falei aqui para entender a mim mesmo. Por consequência, talvez o leitor acabe se espelhando no livro.
Folha - Você parece muito feliz com este livro. E a realização como escritor?
Coelho - Eu nunca me sinto verdadeiramente feliz, talvez contente.
Folha - A felicidade é então algo inalcançável?
Coelho - A felicidade é algo que pode ser um estágio, uma coisa que você pode atingir, ao passo que um guerreiro da luz sempre procura combater o bom combate.
Folha - Para a Itália, você disse que seu novo livro representa a sua "porção mulher", o lado do instinto.
Coelho - É um livro onde eu tento mostrar um lado meu, mas o que eu acho interessante é observar a reação das pessoas em países díspares, como é o caso da Itália e da Inglaterra, onde eu estava há poucos dias para o lançamento de "Na Margem".
Folha - Na sua "peregrinação" pela Europa, você assumiu o papel de guru diante de seus leitores?
Coelho - Estou há quase um mês na Europa, passei por Portugal, Inglaterra, agora Itália e ainda devo ir à Noruega, Eslovênia, Marrocos etc. Em nenhum momento eu me senti guru, assim como os leitores da Europa não me enxergavam assim.
Folha - Como você vê as questões do aborto e do homossexualismo na Europa? O Vaticano é radicalmente contra.
Coelho - As minhas colocações sobre isso eu discuto dentro da Igreja.

Texto Anterior: Lobo Antunes glorifica Drummond
Próximo Texto: Stephen King ressuscita seu 'heterônimo sem escrúpulos'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.