São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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Maluf faz "silêncio de rádio"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O prefeito Paulo Maluf (PPB) não mudou um milímetro a sua posição contra a reeleição mesmo após o abraço do ministro Luiz Carlos Santos.
O que Maluf está fazendo é o que em linguagem militar se chamaria de "silêncio de rádio", ou seja, não emitir o menor ruído quando se está atravessando zona de perigo, para não ser detectado pelo inimigo.
Entenda-se por zona de perigo o segundo turno do pleito paulistano. Maluf não quer correr o menor risco de ver seu afilhado Celso Pitta ser derrotado. Excesso de cautela?
Talvez. Mas Maluf guarda num canto triste da memória o resultado de 1990 para o governo do Estado. Foi assim: no primeiro turno, Maluf superou Luiz Antônio Fleury Filho, então no PMDB, por 2 milhões de votos (5,8 milhões contra 3,8 milhões).
No segundo turno, deu Fleury, com uma vantagem de 500 mil votos (7,3 milhões contra 6,8 milhões).
Ou seja, dá para dizer que Maluf perdeu 2,5 milhões de votos entre o 3 de outubro e o 15 de novembro, exatamente o mesmo intervalo de agora.
Se perder apenas a metade disso, Pitta será derrotado por Luiza Erundina (PT), já que a diferença entre eles, no primeiro turno, foi de 1,2 milhão.
Claro que é preciso lembrar que o eleitorado estadual é obviamente maior do que o municipal, o que significa que o esforço de Erundina terá que ser infinitamente superior ao de Fleury em 1990.
Mas o próprio Maluf lembra um dado que ficou quase esquecido sobre o primeiro turno de 1996: 1 milhão dos 6 milhões de eleitores paulistanos nem sequer se deu ao trabalho de comparecer às urnas (exatamente 19,6% do eleitorado total).
É com base nessa numerologia toda que Paulo Maluf faz "silêncio de rádio" em torno da reeleição. Mas, se Pitta ganhar, Maluf virá não com um rádio, mas com um caminhão de som contra a reeleição.

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