São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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O plebiscito

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Tanto a classe política como os colunistas bem informados -entre os quais não me incluo- sabem que FHC enfrenta agora uma besta negra: a idéia de um plebiscito sobre a reeleição. Como idéia, até que seria uma boa, desde que as opções propostas fossem claras e completas.
Não adianta consultar o povo sobre reeleição ou não. Todos concordam em que a medida é democrática, quem achou que quatro anos era muito foi o próprio FHC quando ainda não pensava que seria presidente.
A questão não pode ser colocada na simples alternativa. Há que se explicitar a época em que a medida entraria em vigor. Essa é a única saída ética para a questão.
Sabe-se que FHC alega que, se houver plebiscito, ele será obrigado "a não pensar em outra coisa". Por acaso ele pensa em alguma outra coisa além de ficar no poder?
Toda a máquina política e administrativa do seu governo está emperrada, numa pasmaceira vegetativa sem outro núcleo de interesse que não o continuísmo puro e simples. O episódio da eleição municipal em São Paulo já fazia parte da única meta de FHC: continuar. Parece que não deu, mas nem por isso ele desanimará.
Pelo contrário. As duas engrenagens do seu governo, a política e administrativa, estão azeitadas para triturar o eleitorado que lhe interessa: os congressistas. Superada a eleição municipal, é hora de todos pensarem em 1998, deputados, senadores, governadores e presidente da República. Serjão já traçou a meta: 20 anos lá em cima.
Ao contrário daquela baboseira ridícula que foi o plano de metas de Kandir -nem FHC acreditou na balela-, os novos movimentos do governo têm a verba adequada: as duas canetas mais solicitadas, a do próprio presidente e a do ministro das Comunicações, que é o tesoureiro da campanha. Homem mais do que imexível, apesar das grossuras administrativas e éticas que comete diariamente.

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