São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Nem testes afastam o risco

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem mesmo testes pré-anestésicos podem afastar totalmente o risco de um choque anafilático. Para que aconteça o choque -que é uma reação alérgica explosiva-, o organismo precisa ter tido antes um contato com a substância que provoca a reação.
O corpo se arma contra esse agente e, quando o segundo contato é feito, responde de forma violenta, dilatando os vasos e levando o organismo a um "suicídio".
O primeiro contato com a substância alérgica, no entanto -dizem os anestesiologistas-, pode ter ocorrido sem que o paciente tenha tido consciência ou conhecimento. A "reação cruzada" -como os médicos chamam esse processo- pode ocorrer com alimentos, drogas ou cosméticos.
Ou seja, o paciente predisposto geneticamente a um tipo de medicamento já pode ter preparado a reação quando teve contato com um cosmético, por exemplo.
"Os testes não saberiam detectar as reações cruzadas", diz David Ferez, diretor científico da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo. Segundo ele, as drogas utilizadas hoje em anestesia são bastante seguras, mas o risco de choque não pode ser afastado.
O perigo maior está nos bloqueadores neuromusculares, as chamadas anestesias gerais. Cláudia Liz recebeu a peridural, que é um anestésico local. Essa droga -lidocaína ou bupivacaína- tira a dor e provoca relaxamento muscular. Se o paciente está agitado -como parece ter sido seu caso-, um hipnótico é aplicado.
Rosa Maria Mazzuco, pós-graduanda da Faculdade de Medicina da USP, vem estudando as ocorrências de choque na primeira exposição em pacientes que recebem anestesia geral. Ela investiga também por que as mulheres são até nove vezes mais vítimas de choques anafiláticos que os homens nesse tipo de anestesia.
David Ferez diz que uma das teses estudadas -para explicar essa desigualdade- relaciona o uso de cosméticos e o manuseio de produtos de limpeza pelas mulheres. Substâncias alérgicas presentes nesses produtos poderiam ter desencadeado uma primeira reação do organismo.
Dados internacionais citados por Rosa Maria indicam que 1 paciente em 5.000 a 20.000 pode ter um choque na aplicação de uma anestesia geral. Nas peridurais ou raquis -anestesias de bloqueio local-, o risco seria bem menor.

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