São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Desenhos de Artaud chegam aos EUA

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

"Antonin Artaud: Trabalhos em Papel" é a primeira exposição nos Estados Unidos dos desenhos realizados pelo artista francês nos últimos 11 anos de sua vida.
As obras refletem de maneira intensa a angústia e a dor enfrentadas por Artaud no período. Ele começou a desenhar em 1937, pouco antes de ser internado em um hospital psiquiátrico de Paris.
O confinamento do artista em diferentes instituições psiquiátricas duraria oito anos.
A mostra, promovida pelo MoMA (Museu de Arte Moderna), é dividida em três partes: "Spells", "Desenhos de Rodez" e uma série de retratos e auto-retratos. Cada uma representa períodos e experiências diversas.
Terapia
Nos oito anos em que esteve internado, Artaud foi estimulado por seus médicos a desenhar como uma espécie de terapia.
"Spells" (encantos) foi o nome que Artaud deu para uma série de desenhos coloridos e povoados de símbolos cabalísticos.
Artaud costumava escrever sobre os desenhos e enviá-los a amigos. Alguns continham "instruções" sobre como o destinatário deveria usar o desenho para ser tocado por seu "encanto".
Em 1943, Artaud foi transferido para o hospital de Rodez, onde ficou até 1946. Lá, foi submetido 51 vezes a tratamento com choques elétricos. Como consequência, teve uma vértebra fraturada e perdeu vários dentes.
Os "Desenhos de Rodez" são extremamente fragmentados e também trazem textos do autor. Muitos têm corpos dilacerados, canhões e revólveres.
Retratos
A última fase compreende o período de 1946 a 1948, ano em que Artaud morreu de câncer, aos 51 anos de idade.
Em 46, ele foi transferido para uma clínica particular no subúrbio de Paris. Lá, tinha liberdade para sair quando quisesse e começou uma série de auto-retratos e retratos de amigos e admiradores.
Sobre esses trabalhos, o artista francês escreveu a seguinte frase, em 1946: "Meus desenhos não são desenhos, mas documentos. Você deve olhar e entender o que está dentro deles".
Obra literária
A coleção completa dos desenhos de Artaud só chamou a atenção do público francês na década passada. O artista é mais conhecido por sua obra literária e pelo seu "Teatro da Crueldade".
As internações foram o ponto final de uma existência atribulada e marcada pela dependência de drogas. Ainda criança, Artaud foi contaminado por meningite, o que lhe causou vários distúrbios nervosos.
Mais tarde, recebeu o diagnóstico de sífilis hereditária. O tratamento com láudano, um sedativo à base de ópio, iniciou Artaud na dependência de drogas.

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