São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Em "Medo", sexo rima apenas com perversão

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma cena resume as intenções por trás de "Medo". O namorado rejeitado David agarra em um banheiro a aterrorizada Nicole. Enquanto aponta para o sexo da moça, ele diz algo como: "Não interessa o que eu falo, o que os outros falam. O que interessa é isso."
Como explicita o diálogo, não são as palavras que tem importância, mas a ação. E a ação do filme de James Foley rima sexo, desejo e irresponsabilidade juvenil com violência e desestruturação familiar.
Nicole (Reese Witherspoon) conhece David (Mark Wahlberg) em uma discoteca. A doçura e sensualidade do rapaz acabam por seduzi-la.
Após a primeira transa, David se transforma em um monstro. Começa a perseguir Nicole, espancar seus amigos, ameaçar sua família.
A garota só se decide por se afastar, porém, ao descobrir que o amante está envolvido com drogas e a traiu com a melhor amiga.
O pai, é claro, é o primeiro a se manifestar contra a relação. Não devido a um sexto sentido qualquer. A objeção nasce da descoberta de uma camisinha usada, se origina na recusa em relacionar sua filha à pratica do sexo.
O genitor é, aliás, a figura mais paradigmática e instigante da fita. Sua personalidade careta e repressora o tornam a princípio antipático aos olhos do espectador.
É, contudo, ao assumir integralmente esse manto machista que ele se torna um herói, com capacidade de derrotar vilão David.
Está, por tabela, também excomungando o sexo, que passa a ser identificado como elemento destruidor do ambiente familiar -que era, apesar dos pesares, saudável.
Pode-se ir mais adiante nessa linha de raciocínio. Nicole e a amiga Margo "se perderam" em uma discoteca de Seattle, ao som de bandas grunge -cidade e estilo musical que melhor representaram a rebeldia juvenil dos Estados Unidos nos últimos anos.
Só vão achar refúgio do medo e da dor em sua bucólica e afastada residência familiar.
Na verdade, esse tipo de roteiro em pouco se diferencia de centenas de outros produzidos anualmente por Hollywood.
O decepcionante é conferir o nome de James Foley nos créditos. O diretor fora responsável pelos excelentes "Caminhos Violentos" e "O Sucesso a Qualquer Preço" e agora só parece capaz de identificar sexo a perversão.

Filme: Medo
De: James Foley
Produção: EUA, 1996
Com: Mark Wahlberg, Reese Witherspoon, William Petersen, Amy Brenneman
Onde: Olido 1, Interlagos 5 e Aricanduva 1 (desde as 13h30) e Paulista 4 (desde 14h)

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