São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Globalização e produtividade e emprego industriais

CLAUDIO MONTEIRO CONSIDERA

Dentre os muitos fantasmas que assolam o imaginário de certos economistas brasileiros destaca-se o da globalização, por seus impactos sobre a economia brasileira ao forçar a elevação da produtividade de maneira a enfrentar a competição internacional. No Brasil, esse movimento se inicia em 1989, simultaneamente com o final de um ciclo de dez anos de virtual estagnação econômica e de queda da renda per capita.
A redução de tarifas foi substancial: elas caíram de 44%, em média, para 12%, em média, num prazo de cinco anos, ampliando consideravelmente o grau de exposição da economia brasileira à competição mundial.
A forma como esse processo de globalização impactou a economia brasileira foi diferenciado segundo os diferentes setores de atividade econômica. No caso da produtividade industrial, os indicadores apontam para o período 1990-95 uma taxa de crescimento da ordem de 7,5%, em média, ao ano.
Esse número está certamente sobreestimado devido a problemas de mensuração tanto do emprego como do valor adicionado, mas a produtividade, certamente, elevou-se substancialmente no período (1). Num primeiro instante (1991-93), tratou-se de um ajuste recessivo semelhante àquele do início da década de 80, para se consolidar posteriormente (1994-95) num novo patamar de produtividade, que define ao mesmo tempo a geração de emprego por unidade de produto industrial.
Alguns analistas supõem ser esse, crescimento da produtividade (7,5% ao ano), o ritmo que a globalização impõe à nossa indústria. Nossa hipótese é a de que esse ritmo de crescimento da produtividade no período recente constitui apenas a recuperação da competitividade perdida na década de 80.
Durante a década de 70 o produto industrial brasileiro apresentou o expressivo crescimento anual de 8,96% gerando 6,45% de emprego, com a produtividade crescendo 2,36%. O Brasil aumentou sua participação no mercado mundial 0,9% para 1,1% em média, nosso volume de comércio chegou a 20,4% do PIB, as exportações do produtos manufaturados cresceram à taxa anual média de 40%, passando a representar 45% de nossa pauta total de exportações, ao final da década.
Durante a década de 80 a produção industrial brasileira reduziu-se à taxa de 0,21% ao ano, o emprego à taxa de 0,43%, resultando na estagnação da produtividade que cresceu à taxa de 0,23%. Com a crise da dívida e a estagnação, o Brasil perdeu participação no mercado mundial (0,8% em 1990), nosso volume de comércio reduziu-se para 12,6% do PIB, nossas exportações de manufaturados ao final da década eram apenas 1,9 vezes superior ao do início, enquanto sua participação na pauta total passa para 54%.
Já na primeira metade da atual década o produto industrial brasileiro cresceu à taxa de 2,09% ao ano, o emprego caiu à taxa de 5,08%, resultando no espetacular crescimento da produtividade à taxa de 7,5% ao ano, algo inigualável até mesmo em termos mundiais. O Brasil começa a retomar sua participação no mercado mundial (0,9% em 1993), nosso volume de comércio cresce para 17,2% do PIB, nossas exportações de manufaturados já em 1995 eram 1,5 vezes superiores que às do início da década, enquanto a sua participação sobre o total da pauta passa para 57% em média.
Entretanto, se tomamos o período de 25 anos (1970/95), observamos que a produtividade média desse período cresceu à taxa de 2,56% ao ano, fazendo com que o patamar de produtividade da economia brasileira encontre-se atualmente no nível a que teria chegado caso tivéssemos prosseguido crescendo no mesmo ritmo da década de 70, sugerindo o processo de recuperação mencionado, como indica o prolongamento da tendência da produtividade observada naquela década.
A consequência em termos de geração de emprego de ser essa a taxa de crescimento médio da produtividade da indústria brasileira capaz de nos manter em nível de competitividade global é que, para cada 1% de crescimento do emprego na indústria que se desejar criar, o crescimento do produto industrial terá de ser de 3,56%, no lugar de 8,5% com o ritmo de produtividade atual.

1. A respeito da mensuração da produtividade ver C.M. Considera e Lucilia R. Valadão, Produtividade e Emprego, Questões Econômicas e Estatísticas, Nota Técnica, In Ipea, Boletim Conjuntural 31, outubro de 1995.

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