São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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HOLOFOTES NO TIMOR

Há pelo menos dois aspectos importantes a salientar na concessão do Prêmio Nobel da Paz de 1996 ao bispo Carlos Ximenes Belo e ao ativista José Ramos Horta por seus esforços pelo fim da guerra civil na ex-colônia portuguesa do Timor Leste.
A luta pela soberania do território, logo após tornar-se independente de Portugal e em seguida ser anexado pela Indonésia em 1975, já causou a morte de quase um terço de sua população, segundo dados da Anistia Internacional. A ONU já se manifestou contra a ocupação, mas repetem-se as execuções extrajudiciais, as torturas e os desaparecimentos.
Em tempos nos quais tanto se fala de globalização, é no mínimo espantoso constatar que ainda possam perdurar, por nada menos que três décadas, situações de cruenta tirania como aquela a que estão submetidos os habitantes de Timor Leste.
Por isso, a premiação dos portugueses tem, em primeiro lugar, o inegável mérito de, no mínimo, dar o necessário destaque a essa verdadeira aberração no quadro das relações internacionais, levada a cabo pelo projeto de unificação cultural e política no arquipélago sob influência do general Suharto. No poder desde 1967, o ditador nacionalista indonésio já vem, de longa data, merecendo o repúdio da comunidade internacional pelo autoritarismo praticado em seus próprios domínios.
Além disso, em se tratando agora de um território cuja língua oficial é a portuguesa, é de se esperar que o governo brasileiro procure abandonar a certa ambiguidade que vem se manifestando em sua diplomacia, sobretudo quando se trata de lidar com situações politicamente delicadas em países com os quais o Brasil tem interesses econômicos a cultivar.
É inegável que, a despeito dos imperativos naturais de toda Realpolitik, seu pragmatismo deve se submeter a determinados limites morais. Assim, é inadiável que o Ministério das Relações Exteriores brasileiro assuma um claro posicionamento contra a agressão perpetrada por Jacarta.

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