São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Antes que apodreça

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A tese do deputado José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara, sobre a reeleição soa radical: "Se não for votada na Câmara até janeiro, é melhorar retirar a emenda e acabar com o assunto".
É opinião pessoal, claro, mas o deputado jura que todos os interlocutores aos quais expõe a sua proposta concordam com ela. E José Aníbal conversou com, por exemplo, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Sérgio Motta.
Desconfio que, se houve mesmo tal concordância, é apenas por educação. Ou, então, os governistas estão tão confiantes nas suas próprias forças que acreditam que a emenda vá correr na Câmara muito mais depressa do que se pode supor de longe.
Há, ainda, uma terceira hipótese: janeiro é o mês em que se encerra o mandato de Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) como presidente da Câmara. Pelas contas dos governistas, não há outro nome capaz de controlar a Casa com a eficácia de Luís Eduardo.
Ou, como prefere José Aníbal: "Nenhum outro tem tanta convicção no projeto do governo".
Logo, sem o deputado baiano no comando dos trabalhos, a emenda da reeleição tende a patinar depois de janeiro. E José Aníbal entende que o pior que pode acontecer, para o governo, é que a emenda "apodreça", pelo tempo de exposição.
Claro que, se houver o "apodrecimento" e, em consequência, a emenda for retirada ou congelada, não quer dizer que o governo terá desistido da idéia. "Depois de janeiro, se vier de fora para dentro (do Congresso), aí tudo bem", diz José Aníbal.
De todo modo, é bom ressalvar que a emenda pode tramitar na Câmara e "apodrecer" no Senado. Embora a tese da reeleição exclusiva para o presidente tenha caído, pode ressuscitar no Senado, hoje basicamente um clube de ex-governadores, quase todos loucos para tirar o "ex" e, por isso, refratários a permitir que os atuais governadores disputem com eles em 98.

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