São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Fernando Pamplona

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não irei ao sambódromo ver a "Aída" que a prefeitura carioca está montando. É uma pena. Mesmo assim, pretendo ver os cenários do Fernando Pamplona -uma de minhas devoções mais antigas. Em princípio, não gosto de ópera nem de concerto ao ar livre. São gêneros que pedem certa concentração espacial que só o teatro ou sala podem dar.
Mesmo as expressões mais espalhafatosas ("Aída" e "Turandot" na lírica, a "Nona" e o "1812" no sinfônico) ficam melhor no faz-de-conta que é o chão da arte. Mas quero falar é do Pamplona.
Foi meu primeiro capista -ele que só fez uma capa: a minha. Pamplona ganhara o Salão de Belas Artes, pegara a viagem ao exterior, que era o melhor do prêmio, ia para a Alemanha.
Até então, sua fama provinha do Municipal (Rio), onde trabalhava com Mário Conde, Arlindo Rodrigues e o futuro Joãosinho Trinta -todos na cenografia. Lembro o admirável cenário que ele fez para "Madama Butterfly" e a extraordinária realização dos cenários e figurinos de Picasso para o balé "O Tricórnio", na temporada dirigida por Leonide Massine.
Fernando me parecia em crise. Ele estava enfeitiçado pelas escolas de samba, já era o teórico mais importante de nossa arte popular. Ao voltar da Alemanha, abandonou sua carreira acadêmica e tornou-se o carnavalesco que deu régua e compasso aos desfiles. Suas grandes criações não foram até hoje superadas. Todos os que vieram depois dele são, de uma forma ou outra, seus diluidores.
Irei ver os cenários de "Aída" nesse seu retorno ao teatro lírico. Gostaria que ele fizesse, também, sua segunda capa de livro para um romance que ainda escreverei.
O diabo é que tenho agora o Victor Burton, que ganhou o Jaboti deste ano com a capa de um livro meu. Vou tentar um acordo com o editor Luiz Schwarcz.

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