São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Nordeste tem celular per capita de Primeiro Mundo

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas capitais do Nordeste, quem diria, estão atingindo índices de primeiro mundo em matéria de telefonia celular.
Salvador já tem uma proporção de seis celulares instalados por cem habitantes e Fortaleza vai chegar ao final do ano com uma proporção de 5%.
Para se ter uma idéia, a média da França é de 3,4%, a de Portugal é de 4,9% e a da Espanha é de 5,3%.
Parte deste fenômeno se deve ao interesse das telefônicas estatais em atender o mercado antes que cheguem os concorrentes privados, que vão explorar a Banda B.
Parte se deve à falta de telefones comuns. Outro fator, segundo análise das telefônicas estatais é a verdadeira paixão que o celular desperta nos brasileiros.
Hora marcada
Para se ter um celular em Fortaleza (CE) basta ir a uma loja comprar o aparelho e se dirigir à telefônica para habilitá-lo, mediante o pagamento de uma taxa de R$ 223,00. O atendimento é imediato. Em compensação, há 130 mil pessoas na fila de espera para telefones comuns.
Em Teresina, no Piauí, e em São Luís, no Maranhão, a instalação de celular também é imediata. Em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, existem 10 mil celulares em funcionamento e mais 5.000 na prateleira da telefônica que poderiam ser instalados de imediato.
Em Salvador, o tempo de espera para habilitação do celular é ditado não pela capacidade do sistema da Telebahia, mas pela disponibilidade de tempo das atendentes.
Segundo o diretor de Serviços da Telebahia, João de Deus, o sistema de celular da estatal comporta a instalação de mais 6 mil aparelhos em Salvador e já estão sendo instalados equipamentos para mais 20 mil assinantes.
O problema é que os funcionários que fazem as habilitações só conseguem atender 400 pessoas por dia. Para evitar o congestionamento, a Telebahia passou a trabalhar com horários marcados.
João de Deus diz que os soteropolitanos estão em uma situação invejável diante dos paulistas, mas reconhece que os habitantes de Salvador só terão um serviço celular de primeiro mundo quando houver competição entre operadoras de celular.
Aí, diz ele, elas deixarão de cobrar pela habilitação e oferecerão o aparelho celular de graça para atrair novos clientes.
Lenardo de Castro, diretor da Teleceará, diz que que Fortaleza já tem 121 mil celulares instalados e muitas famílias das classes A e B já estão partindo para o segundo aparelho.
A Teleceará já identifica expansão do serviço entre profissionais autônomos, como pedreiros e encanadores. Lenardo Castro conta que, recentemente, ele fazia cooper na praia quando viu um gari com um celular preso à cintura.
Sua reação inicial, segundo ele, foi considerar que o gari havia encontrado o aparelho na areia. "Perguntei se havia achado o aparelho e ele me respondeu que o havia comprado. Disse que trabalhava como pedreiro à tarde e que usava o celular para receber recados dos clientes."
Em Teresina, capital de um dos Estados mais pobres do país, existe um telefone celular em funcionamento para cada cinco telefones convencionais instalados na cidade. A telefônica local, Telepisa, dispõe de uma oferta imediata de mais 3.000 celulares na capital.
A explicação para este fenômeno está na concentração de renda. A grande maioria não tem dinheiro para comprar nem o telefone fixo.
Segundo Vivaldo Fernandes, gerente de telefonia celular da Telepisa, a linha telefônica comum custa menos no mercado paralelo (cerca de R$ 850,00) do que o preço oficial da telefônica (R$ 1.117,00). A diferença é que, no paralelo, o pagamento é à vista.

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