São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Ídolos simbolizam transição do esporte

SÉRGIO KRASELIS; RODRIGO BUENO
DOS ENVIADOS AO RIO

Duas lendas vivas do surfe mundial têm encontro marcado na próxima semana nas águas da Barra da Tijuca (zona sul do Rio).
Nascidos nos EUA, Tom Curren, 32, e Kelly Slater, 24, representam, cada um a seu tempo, um marco dentro do esporte. Ambos transformaram o surfe em um espetáculo cada vez mais popular.
Enquanto Curren exibe um surfe que mescla elegância e agressividade, Slater personifica a modernidade do esporte, exibindo toda a sua elasticidade e radicalismo no ataque às ondas, características que marcaram a transição do surfe nos últimos dez anos.
Em 1986, Curren se sagrou bicampeão mundial. Nesse mesmo ano, o Brasil voltou a fazer parte do Circuito Mundial.
Além de o surfe nacional passar por um período de crescimento econômico, o esporte também se desenvolveu internacionalmente, especialmente a moda esportiva.
Nesse período, Curren e Slater se firmaram como fenômenos.
Tricampeão mundial, Curren foi um colecionador de recordes até decidir parar de competir regularmente em 1992.
Slater, que ganhou seu quarto título mundial na semana passada, em Portugal, corre agora atrás de recordes -ele igualou a marca de Mark Richards, surfista australiano (a diferença está no fato de que Richards conquistou seus quatro títulos de forma consecutiva).
Slater chega ao Rio disposto a vencer seu sétimo torneio no ano.
Se conseguir, deixa para Pipeline, no Havaí, a missão de se transformar no único surfista da história a vencer oito etapas do Mundial em uma temporada.
Passado
A volta de Curren dá um tom de nostalgia ao circuito, colocando em cena o "velho surfe".
Curren revê antigos rivais, como o havaiano Derek Ho e o australiano Barton Lynch, vice-campeão mundial em 1985.
O mesmo Lynch que, ao lado de seu compatriota Mark Occhilupo (que também voltou a disputar o circuito este ano), se revezou no pódio com Curren.
Como Curren, todos já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, mas continuam a ser reverenciados pelos mais novos.
"Sempre teremos o que aprender com Curren", diz o brasileiro Neco Padaratz, 23, um dos mais talentosos da nova safra.
Para o príncipe herdeiro do trono brasileiro, D. João de Orleans e Bragança, 42, um dos primeiros a surfar na Indonésia nos anos 70, os dois não podem ser comparados.
Joãozinho, como é chamado pela galera do surfe, pegou onda no último dia 6 com Curren, na Prainha.
"Foi muito emocionante, pois considero ele um dos melhores surfistas do mundo. Ele é muito calmo e surfa com elegância. Slater já mostra manobras mais ousadas", diz o príncipe.
O arquiteto carioca Irencyr Beltrão, o Barriga, vai mais longe. Reconhecido como um dos primeiros surfistas do país, ele pegou sua primeira onda na praia do Arpoador (zona sul do Rio), nos anos 50.
"Gosto mais de lembrar do tempo do surfe romântico. Hoje em dia a maioria dos surfistas assume uma posição agressiva nas ondas. Curren e Slater são bons, mas, mesmo assim, deixam a impressão de que querem destruir as ondas", avalia Barriga, 55 anos.
Já o ator, empresário e surfista André di Biasi, 39, considera Tom Curren o melhor. Segundo ele, Kelly Slater não é páreo.
"Curren tem a magia do Pelé. Já o Slater tem a raiva animal do Edmundo", disse Di Biasi.
(SK e RBu)

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