São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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O que FHC mudou no que escreveu

A base teórica
Capitalismo e escravidão - No livro sobre o escravismo no Brasil, FHC monta a base do seu modelo teórico de interpretação das classes sociais e do capitalismo brasileiro, e o modo como o país se integrava na ordem econômica mundial. FHC mostra como as características do desenvolvimento brasileiro eram diferentes dos países capitalistas mais avançados do "centro" mundial

A evolução da teoria principal
Primeiras idéias
"Subcapitalismo ou socialismo" - Nessa época FHC debate a hipótese defendida pela maioria da esquerda sobre o desenvolvimento e a política brasileiros: os empresários do campo (o "latifúndio") e as empresas e países estrangeiros (o "imperialismo") se aliavam para impedir o avanço da industrialização e do capitalismo no país. Para sair desse impasse, seria necessário que os empresários nacionais (a "burguesia") se aliassem aos trabalhadores (as "massas") para derrotar essa aliança e instaurar um regime que promovesse o desenvolvimento autônomo e independente do país.
Para FHC, a análise estava errada: os empresários nacionais se associavam às multinacionais, apoiados pelas empresas estatais, para promover o desenvolvimento -formavam um "tripé". FHC pensa então que, ou o país teria um subdesenvolvimento, ou as "massas" teriam de conduzir o país ao desenvolvimento.

Repensando a análise
Desenvolvimento, mas dependente - FHC agora considera que o Brasil não está condenado ao subdesenvolvimento, mas se desenvolve de maneira peculiar e dependente de tecnologia e financiamento dos principais países capitalistas, e associado a estes.
Exilado no Chile, FHC, com o sociólogo chileno Enzo Faletto, pensa que o "centro" (os principais países capitalistas) não determina integralmente como e se os países da "periferia" vão se desenvolver. Isso dependeria de como as classes sociais dominantes de relacionam com os países do "centro".

A crítica
Crise da dívida e do desenvolvimento - Nos anos 80, FHC se dedica a analisar o problema político da transição do regime militar para a democracia. Críticas recentes a FHC dizem que ele não pensou a mudança do capitalismo mundial, que alteraria profundamente o modo de financiamento, e de desenvolvimento, da economia brasileira. O primeiro sinal dessa mudança foi a crise da dívida externa. Depois disso, o Brasil entraria na "década perdida", de estagnação econômica.
"Mudou o mundo" - FHC diz que não poderia ter previsto essa crise mais de uma década antes".

Adaptação ao "mundo novo"
Mundialização (anos 90) - FHC volta a publicar suas idéias sobre as condições mundiais em que se dá o desenvolvimento do país. "A mola do futuro não é só a acumulação (o desenvolvimento do capitalismo) -e a luta de classes por ela posta. Há um espírito novo". A novidade a ser levada em conta é a mundialização e o novo capitalismo: a competição global com as armas do desenvolvimento tecnológico e científico. O país agora deve se abrir para incorporar o novo capital. O Estado não tem mais condições de bancar esse jogo

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