São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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A vala comum do poder

DA REDAÇÃO

Leia a seguir depoimento de Maria Sylvia Carvalho Franco, professora titular do departamento de filosofia da Unicamp, a respeito do governo FHC.
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Fernando Henrique abandonou a retórica dos fins -modificações democráticas no Estado e na sociedade, a "modernização"- para assumir um espaço na vala comum dos "poderosos como sobreviventes", analisados por Elias Canetti em "Massa e Poder". Os seus atos e palavras não mais indicam "alvos nobres" para justificar alianças com os grupos retrógrados da política nacional. Agora, o "fim" supremo é a permanência do próprio FHC no poder. Nesta cruzada, os antigos companheiros de partido são afastados, em proveito dos que podem assegurar a continuidade do mando. Entre Mário Covas, que o salvou do naufrágio Collor, e Maluf, outro sobrevivente, a escolha parece feita. Quem, hoje, é considerado inimigo do presidente? Todos os que se opõem à sua recondução ao Planalto. A campanha teve início quando FHC identificou os críticos do governo como "adversários do Brasil". E os amigos? O mais conspícuo é Sérgio Motta, utilizado às escondidas e às claras por FHC para fazer o que os franceses chamam "sale boulot", o trabalho sujo. Nos próximos tempos, ao acirrar-se a luta pela sobrevivência no poder, certamente se desencadearão manipulações propagandísticas, chantagens, promessas e atos que repetem os hábitos de controle político na sociedade brasileira.

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