São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Rainha foi "peso à esquerda" na balança

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

Desde que subiu ao trono, há 45 anos, a rainha Elizabeth 2ª exerce o papel de "balança" entre esquerda e direita. Nos últimos 17, sob governo conservador, essa "balança" pesou mais à esquerda.
Esse é o retrato que o doutor em história Ben Pimlott, 51, faz em sua biografia sobre a rainha britânica, que começa a ser vendida amanhã nas livrarias do Reino Unido.
"Nesses anos de governo conservador, a rainha tentou, principalmente nos anos de linha-dura de Margaret Thatcher (1979-90), jogar o Reino Unido mais para a esquerda", disse Pimlott à Folha.
E acrescentou: "Em alguns casos específicos, a rainha agia como uma protetora dos pobres, mas não podemos dizer que ela é uma socialista".
Nas 692 páginas de "A Rainha, uma Biografia de Elizabeth 2ª", escritas após três anos de pesquisa e 85 entrevistas com funcionários e amigos da rainha, o professor de política do Birkbeck College (Londres) descreve a rainha como uma figura "quase apolítica", mas que aproveitou bem o seu poder para interferir na opinião dos premiês.
"Muitas vezes Elizabeth ficou irritada com o estilo radical e de confronto de Thatcher, principalmente em relação à política externa, e fez com que ela soubesse."
Já com o atual premiê, John Major, a rainha tem um "ótimo relacionamento", diz Pimlott.
Apesar da grande atuação da rainha na política britânica, Pimlott afirma que ela é "passiva".
"Se por um lado ela é uma grande conselheira, ela é do tipo que não acrescenta idéias novas."
As outras características descritas pelo autor confirmam o que já foi dito em outras biografias: que ela é "reservada, emocionalmente distante da família, muito inteligente -mas não intelectualmente-, cumpridora de seus deveres e muito aplicada".
Rumo da monarquia
Se Tony Blair (líder trabalhista) vencer as próximas eleições gerais (marcadas para maio do ano que vem), Pimlott, autor de cinco livros sobre os trabalhistas, acredita que pode haver pressões para a renovação da monarquia.
"Acho que haverá pedidos de mudança, mas nada muito dramático porque a família real ainda é muito popular", diz o ex-presidente da Fabian Society, que recentemente fez um projeto de modernização da monarquia.
Pimlott afirma que a proposta de reduzir os gastos com a monarquia é uma faca de dois gumes.
"Parece clara a necessidade de reduzir as despesas da monarquia, mas, se você pára de dar dinheiro, você também perde o controle. Se a monarquia tiver de se sustentar, corre o risco de isolar. E a população não quer isto porque ela é parte da identidade nacional."
Escândalos
Na opinião de Pimlott, os escândalos provocados pelos divórcios do príncipe Charles, herdeiro do trono, e de seus dois irmãos "não são importantes nem têm influência política porque estão relacionados a problemas pessoais".
Mas a relevância dos escândalos pode aumentar se a rainha morrer. "Acho que, se Charles tivesse de assumir hoje, ele seria pressionado para ser mais comedido, o que ele faria bem porque ele é, na minha opinião, cumpridor de seus deveres e está se preparando para isso há muito tempo."

"A Rainha, uma Biografia de Elizabeth 2ª" custa 20 libras (US$ 30) e ainda não tem data para ser publicado no Brasil, mas poderá ser importado pelas livrarias de São Paulo

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