São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O novo perfil dos bancos

LUÍS NASSIF

O ajuste do sistema bancário brasileiro mal começou. A opinião é do francês Bertrand Lavayssiere, que assessorou a reestruturação de alguns gigantes bancários europeus, como o Lloyds, o Dresdner e o ABN.
A crise do sistema bancário não é exclusividade brasileira.
A abundância de capital, em nível mundial, e o incremento das operações não-bancárias, ao derrubar os "spreads" bancários (diferenças entre taxas de captação e de aplicação), levaram a profundos processos de reestruturação do sistema.
Esse novo cenário abriu poucas perspectivas para bancos pequenos. A escala passa a ser fundamental. E as fusões têm produzido bancos maiores e mais rentáveis.
Na França, por exemplo, o "spread" bancário não passa de 2% ao ano. A rentabilidade sobre ativos está por volta de 10%, se o banco utiliza seus próprios recursos. Os negócios com pessoas físicas permitem taxas de rentabilidade mais expressivas, na faixa de 30% sobre o capital. Mas junto a grande empresas, a rentabilidade não passa de 0,2%.
Em 1999, com a unificação do sistema monetário europeu, o quadro tende a se agravar. Os bancos perderão receitas com operações de câmbio -que hoje representam 15% das receitas totais.
Esse quadro tem levado a uma tendência irreversível de concentração dos sistemas bancários nacionais. Na Holanda e Suíça, os cinco maiores bancos controlam 90% do mercado; na Alemanha, 40%, e na Inglaterra, 35% -mas com tendência de crescimento da concentração.
Brasil
Nesse panorama, Lavayssiere considera que o sistema bancário brasileiro ainda está longe de se ajustar. A relação funcionários por ativos continua muito elevada. Subsistem muitos bancos pequenos, impedindo ganhos de escala decorrentes da concentração bancária.
Maior banco privado brasileiro, por exemplo, o Bradesco tem corpo de 65 mil funcionários. Uma caderneta de poupança, perto de Paris, tem o mesmo volume de ativos do Bradesco e trabalha com 4.000 funcionários.
Com o mesmo número de funcionários, o Crédit Lyonnais detém 15 vezes mais ativos. Do mesmo tamanho do Bradesco, o Banco do Espírito Santo, em Portugal, opera com 4.000 funcionários.
As agências bancárias brasileiras estão no mesmo estágio das agências européias de 15 anos atrás. Sessenta funcionários trabalhando em espaços de até 2.000 metros quadrados, em regiões nobres e de aluguel caro, sem produtos para vender, administrando ativos médios da ordem de US$ 5 milhões por agência.
A agência típica moderna trabalha com três funcionários, no máximo cinco ou seis, em lojinhas de 50 metros quadrados, altamente informatizadas, administrando ativos da ordem de US$ 50 milhões. Sem frescuras, porque a operação bancária é vista apenas como um negócio, sem rapapés.
Especializações
Paralelamente à tendência de concentração bancária, deverá ocorrer uma segmentação no âmbito de cada organização.
O caso mais expressivo é o do Banco Comercial Português, primeiro banco a surgir no âmbito da revolução da informática -e que tem servido de inspirador para alguns bancos brasileiros, como o Unibanco.
Em apenas oito anos, saiu do zero para dominar 25% do mercado português.
Altamente informatizado, o banco se apresenta ao público com sete marcas próprias. É como se fossem sete bancos, mas todos eles compartilhando da mesma retaguarda e embaixo de um único balanço consolidado.

Texto Anterior: O membro desequilibrado da família Brasil
Próximo Texto: Briga dos 'populares' esquenta em 97
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.