São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Cadeiras do Main Stage fazem Isaac Hayes conter o balanço no festival

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Isaac Hayes,58, sabia que ia tocar para uma platéia sentada e moldou seu show de sexta no Free Jazz, em São Paulo, para que assim fosse. Cantou poucas e longas músicas, quase todas lentas, sofisticadamente pomposas, embaladas em insuperável vozeirão.
O erro de concepção foi, pois, da organização do festival. Hayes não deveria estar em outro lugar que não fosse o palco Groove.
Isso o artista provou nas poucas peças balançadas que incluiu -a começar pela música de abertura, "Don't Let Go", gravemente prejudicada pelas cadeiras aprisionadoras e pela qualidade de som nula no Main Stage.
Uma baterista ensandecida e duas vocalistas -uma delas loura encaracolada na melhor tradição "ovelha"- secundavam-no na conquista das atenções, em coreografias kitsch que só não roubaram o show porque Isaac é Isaac.
Mesas e cadeiras tornaram-se incômodas também na canção de encerramento, "Theme from Shaft". Aí, finalmente, Hayes -até então calmo e calculista- levantou-se de seu teclado e encenou o clímax do show.
A música-tema do filme "Shaft" (71), até hoje seu maior sucesso, nunca foi a melhor de suas composições, mas se tornou mesmo peça-chave -Hayes virou maestro, ordenando com os dedos das mãos a quantidade de pulsos que a banda deveria cumprir.
No recheio, entre baladas como "Fragile" -uma das piores que Sting já compôs-, transformada em algo bem mais que decente por Hayes, o "Memphis Soul" do veterano por vezes cansou o público e levantou balbúrdia em segmentos desatentos da platéia.
Ele, frio e distante como talvez convenha a um profissional, cumpriu seu papel -sem emoção, mas com perfeição. Não há que reclamar.

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