São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Talento de Salif Keita une música tribal e africana com funk

GUGA STROETER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vale a pena juntar a música tribal africana ao funk pagando-se o preço de abrir mão da polirritmia em favor de uma batida constante, reconhecida em nossa cultura?
Essa mesma desconfiança saudável permeava parte da platéia que aguardava ansiosa a apresentação do malinês Salif Keita.
Dizia-se à boca miúda: ele é africano, de estirpe nobre e albino. Tais informações seriam suficientes para garantir que o público estivesse defrontando-se com algo novo, misterioso, inusitado.
Mas não, mil vezes não!! essas excentricidades pouco interessam. À partir do momento que se ignoram esses detalhes é que começa a verdadeira apreciação artística.
Parece complexo, mas é como desprezar o fato de que Van Gogh amputou a própria orelha para poder enxergar suas pinturas.
Toda essa divagação é um preparativo para que se possa sentar à cadeira e buscar aquilo que o artista veio trazer ao público: a música.
Foi então que Salif Keita e sua banda subiram ao palco. Foi então que constatamos que Salif Keita é um talento musical legítimo.
Moktar na bateria, N'Doumbe Djengue no baixo e Souleymane Doumbia na percussão, mostraram um trabalho burilado, tecendo diversos "Grooves" por vezes bastante intrincados, mas sempre esbanjando segurança e bom gosto. Passearam pelo reggae, pelo Juju e pelo Räi. Longos interlúdios instrumentais demostraram a familiaridade dos músicos com a linguagem jazzística.
A platéia dançava ao som dos melismas de Keita quando Chico César subiu ao palco e colaborou no coro da canção "Afrika".
O concerto foi um sucesso. Restou-nos, por fim, a pergunta: até onde o músico malinês se utiliza e respeita as influências da tradição musical de seu país? Talvez seja desnecessário procurar a resposta.

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