São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Bjõrk aponta para o futuro e mostra música globalizada aos brasileiros

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A cantora islandesa Bjõrk subiu ao palco no sábado para dar ao festival de jazz o que lhe faltava: juventude. Contrariando a praxe de que todo pop star internacional só acaba vindo parar no Brasil depois dos 40, ela chegou no auge de sua carreira -quem viu vai lembrar disso nos próximos 40 anos.
Nada, portanto, de entidades pop vincadas pelo tempo lutando para camuflar o cansaço e fingir entusiasmo -como foi, nos últimos tempos, o caso de Lou Reed, Isaac Hayes, George Clinton.
Bjõrk driblou a acústica lamentável do salão e soltou demônios no palco como quem solta bolha de sabão -sem fazer nenhuma força, sem encenação calculada, sem economizar energia, sem fingir que estava num festival de jazz.
O resultado é que ela inaugurou no Brasil a era da música globalizada, derrubando todas as fronteiras que encontrou pelo caminho.
Transformou baladões alicerçados nos vocais em autênticas peças dançantes, caso de "Venus as a Boy" e -incrível!- o velho standard "It's Oh So Quiet".
Enquadrou o improvável oferecendo a imagem de uma esquimó descabelada metida num vestidinho maria-mijona cantando acompanhada de um acordeom.
Cristalizou o impossível fazendo-se totalmente moderna ao cantar com orquestra "Isobel", dedicada à pré-cambriana Elis Regina.
Mostrou que não sabe nada de Brasil: pensa homenageá-la e canta descalça, como faria Clara Nunes -conseguindo a façanha, num só tempo, de expurgar a chatice de Elis e a chatice do rock'n'roll.
Se lá da Islândia ela já conseguiu tanto, sua estada em solo brasileiro potencializa a promessa. Tomara que aproveite para estudar MPB e ouvir Rita Lee, Clara Nunes, Gal anos 70, Wanderléa, Leno e Lilian. Aí será inevitável: Bjõrk é o futuro.

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