São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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George Clinton descumpre promessas e público vai embora mais cedo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

George Clinton não ficou no palco até ser tirado à força, como havia prometido, nem ultrapassou três horas de show. Mesmo assim, foi um show longo, muito longo.
Sua materialização no palco, após longuíssima jam session de seus músicos (que nem chegaram perto de 26, como havia sido divulgado) foi memorável.
A entidade funk surgiu num lençol negro, só de ceroulas por baixo, os cabelos brancos enfeitados de "dreadlocks" multicoloridos. Começou a declamar, e ninguém entendeu nada -a acústica do galpão transformado em palco seria risível, se não fosse de chorar.
Mas era Clinton falando, e isso por si só já é história. Logo a seguir, ele atacou versão desconstruída de "One Nation Under a Groove" (78), em que manipulou o público de modo a conseguir um coro de vozes menos abafado que o som que saía de seu microfone.
A música durou mais de 15 minutos -como todas as outras. Se no começo tudo OK, alguns números depois o prolongamento "jam" foi se traduzindo em excesso -e o público foi abandonando o recinto, em fila.
O que a princípio significou domínio de cena para conquistar a platéia acabou parecendo senilidade -Clinton fez caretas, riu para as louras na platéia, cantou e, no resto do tempo -ou seja, na maior parte do tempo, o das "jams"-, zanzou pelo palco feito barata tonta, sem ter o que fazer.
Deve ter percebido que a coisa não estava funcionando, pois suprimiu números prometidos, como os do novo e primoroso disco, "T.A.P.O.A.F.O.M." -prova de que o que esses mitos da música ganham em técnica e qualidade na confecção de discos perdem em energia para enfrentar o palco.
Acabou indo embora mais cedo, e ninguém reclamou. Não há que culpar George Clinton, mas foi uma dolorosa decepção.
(PAS)

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