São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996 |
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Obra traz imagens-chaves do cinema brasileiro
JOSÉ GERALDO COUTO
Com texto em três línguas -português, inglês e espanhol-, o livro cumpre sua proposta de servir como uma espécie de compêndio das imagens mais marcantes do cinema brasileiro. Depois de um breve apanhado histórico da produção cinematográfica no Brasil, o volume apresenta uma generosa seleção de fotos de 300 filmes (todas em preto-e-branco), cada uma delas acompanhada de um pequeno texto sobre a obra e, eventualmente, sua repercussão. O primeiro filme apresentado no livro é o documentário "No País das Amazonas", realizado em 1921 por Silvino Santos e Agesilau de Araújo. O último é "Cinema de Lágrimas" (1995), de Nelson Pereira dos Santos. Lacunas Dada a abrangência do trabalho, era inevitável que ocorressem lacunas e esquecimentos, mesmo porque o livro não pretende esgotar a cinematografia brasileira. Mesmo assim, cabe lamentar certas ausências. Não há nenhum filme de Zé do Caixão, nenhum Mazzaropi, nenhuma pornochanchada. Alguém pode dizer que não se tratam de momentos significativos do cinema brasileiro? Não se pode usar como desculpa a falta de espaço. Afinal, só o episódio dirigido por Alex Vianny no filme internacional "Rosa dos Ventos" (1955) mereceu três fotos. O mesmo privilégio foi concedido a "Cordão de Ouro" (1978), de Antonio Carlos Fontoura. Essas escolhas parecem indicar um critério discutível de seleção, ditado por uma leitura da história do cinema brasileiro que está a um passo do preconceito: primeiro, contra os filmes considerados de entretenimento fácil; segundo, contra a produção não-carioca. O algo confuso texto de introdução dá outras pistas para que se entendam as idiossincrasias da seleção. Nele, o autor revela uma visão um tanto sociologizante do fenômeno cinematográfico, tentando sempre relacionar diretamente um determinado contexto social a um determinado tipo de filme. Alienação Idéias há muito colocadas em questão -como a de que as pornochanchadas eram incentivadas pelo regime militar para alienar "o povo"-são reafirmadas numa retórica inflamada. Eis um exemplo do reducionismo brutal de certas passagens: "Vibrar com as musas pornôs dos circunspectos melodramas existenciais de Walter Hugo Khouri parecia menos ameaçador à moralidade do regime do que a exaltação de cangaceiros subversivos ou mártires de insurreições". Nesse tipo de análise, generalizante e "conteudística", quem sai perdendo é o cinema. Ortografia Quanto ao acabamento, há problemas inadmissíveis para uma edição patrocinada pelo Ministério da Cultura: além dos inúmeros erros de ortografia, vários filmes tiveram seus títulos adulterados. "A Terceira Margem do Rio" virou "A Outra Margem do Rio" e "O Quatrilho" simplesmente saiu sem título em português. Livro: História Visual - Cinema Brasileiro Autor: José Carlos Monteiro Texto Anterior: Viagem pelos mistérios da criação humana Próximo Texto: Estudo disseca neo-realismo Índice |
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