São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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OS NOVOS POBRES

Em maio de 94, 16,1% da população da Grande Buenos Aires encontrava-se abaixo da linha de pobreza, segundo o Indec, principal instituto de estatísticas argentino. Tal proporção atingiu 26,7% do total de habitantes em maio último.
O impressionante crescimento -equivalente a 66% de aumento da pobreza em apenas dois anos- dá uma medida do grau de deterioração social a que determinados constrangimentos econômicos podem conduzir um país. O fato lembra que a estabilidade de preços (que na Argentina é ainda maior que no Brasil) tem certamente valor inestimável, mas está longe de ser uma panacéia.
Mantido o câmbio fixo, a resposta que a Argentina pôde dar à fuga de capitais desencadeada pela crise do México foi elevar juros e precipitar o país na recessão. Com consumo e produção em baixa, logrou-se reduzir também a demanda de importados. Mas, se a diminuição das importações melhorou a balança comercial, ajudando a restaurar a confiança dos investidores externos, a recessão agravou os problemas sociais.
Depois da grande melhora que a estabilização inicialmente proporcionou aos setores de baixa renda, o quadro social voltou a deteriorar-se. Em 91, ano da introdução do Plano Cavallo, a proporção de pobres na Grande Buenos Aires chegava a 27,6%. Em maio de 94, fora reduzida para 16,1%, subindo para 19% em outubro desse mesmo ano. A volta, agora, a níveis próximos dos de 91 pode ser explicada em grande parte pelo desemprego no país.
Entre 91 e 92, eram cerca de 7% os que não encontravam trabalho. Essa taxa subiu para o patamar de 10% entre maio de 93 e maio de 94. Com a queda no ritmo de crescimento econômico, ficou entre 16,4% e 18,6% em 95 e 96. O dado mais recente, de maio último, registra uma taxa de desemprego de 17,1%.
Trata-se de um alerta para o Brasil, para que não subestime os efeitos deletérios da queda do emprego, nem esqueça que a prioridade é o problema social. Afinal, o desempenho de um país não se mede apenas pelas expectativas dos investidores, mas por como estão vivendo as pessoas.

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