São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Último da fila?

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Monta-se em Brasília uma operação-hospital para arrancar o Bamerindus do coma financeiro. O resgate é urdido à sombra. Deve vir a público antes do final do mês.
A cara do Bamerindus é a de um doente estirado na maca, debilitado pelo vírus da desconfiança. O mesmo vírus que ajudou a derrubar o Econômico e o Nacional.
A desconfiança exerce sobre um banco efeitos nefastos. Provoca como que uma hemorragia, drenando correntistas para outras instituições.
Em janeiro, uma injeção de R$ 500 milhões resolveria os problemas da casa bancária do ex-ministro Andrade Vieira. Em junho, a conta saltou para R$ 1,5 bilhão. Hoje, bate em R$ 2,5 bilhões.
Em casos do gênero, como se vê, a hesitação pode custar milhões. Andrade Vieira esteve com Fernando Henrique. Cobrou urgência.
Primeiro, o Banco Central tentou vender o Bamerindus. Conversou com bancos do porte do Safra e do BCN. E nada. Queriam " comprar", mas na bacia das almas.
Uma decisão está tomada: Andrade Vieira será arrancado da direção do negócio. Na prática, a política o mantém afastado de postos executivos desde 1990. Mas perderá também a presidência da Fundação Bamerindus, uma instituição que controla 50% das ações do banco.
Discute-se o seguinte: o governo injetaria nas entranhas carcomidas do Bamerindus uma dose de dinheiro público do Proer. As máquinas de calcular não chegaram a um consenso quanto ao montante exigido.
Em seguida, um administrador " independente" seria acomodado na presidência da Fundação Bamerindus. Junto com os funcionários, donos de 12% das ações, ele controlaria o banco.
Trata-se, por ora, de uma idéia. Uma idéia que, convertida em decisão, se transformará em munição. De um lado, o governo dirá que salvou os correntistas do Bamerindus. Do outro, a oposição afirmará que salvou-se mais um banco.

Texto Anterior: DISSENSO DE WASHINGTON
Próximo Texto: Sarney, o PMDB e a reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.