São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chance de emprego cai 10 pontos desde 86

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

As chances de um membro da PEA (População Economicamente Ativa) conseguir um emprego formal são hoje quase 10 pontos percentuais inferiores às de 10 anos atrás.
A informação consta de editorial do mais recente número de "Mercado de Trabalho - Conjuntura e Análise", publicação trimestral conjunta do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do Ministério do Planejamento) e do Ministério do Trabalho.
Em números, segundo André Urani, editor responsável pela publicação e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro): na média de 1986, a relação entre o número de empregados com carteira assinada e os membros da PEA era de 55,73%.
Já na média de 1995, essa relação desabou para 46,18%. Ambos os números referem-se às regiões metropolitanas apenas.
A inquietante análise sobre o mercado de trabalho serve de base para a proposta de criação de um Sistema Público de Emprego, cujo piloto já está pronto para ser lançado pelo Ministério do Trabalho (ver quadro).
Quem desemprega
Para reforçar a constatação sobre a diminuição das chances de se encontrar emprego com carteira assinada, o editorial aponta o fato de que os "bons" empregadores, até o início dos anos 90, passaram a empregar menos.
São os seguintes:
1 - Indústria - Porque está se reestruturando para enfrentar a concorrência internacional decorrente da abertura da economia.
2 - Setor financeiro - Porque adota uma automação agressiva, porque perdeu as "gordas receitas inflacionárias" e porque está havendo crescente número de fusões e aquisições.
3 - Estatais - Porque estão sendo progressivamente privatizadas e os novos donos se desfazem de "parcelas significativas de seu pessoal".
4 - Administração pública - Embora a reorganização esteja apenas começando, já se traduz por uma redução no número de servidores públicos.
O editorial diz que esse quadro negativo só não se traduziu em explosão nas taxas de desemprego porque houve "uma crescente precarização das relações de trabalho e, sobretudo, um aumento do trabalho por conta própria".
As vítimas
A busca de trabalho informal (e precário) se deve, sempre segundo a análise do Ipea, ao perfil das "principais vítimas do processo": homens, chefes de família com 35 anos ou mais, com baixa escolaridade e muitos anos de experiência em seus setores de origem.
Como sabem que esse perfil lhes dá "pouquíssimas chances de se reempregar nas mesmas condições a que foram acostumadas no passado", tais pessoas correm para o auto-emprego.
Não incham as estatísticas de desemprego, mas conseguem apenas colocação de "má qualidade, o que é ruim para elas e para o conjunto da sociedade", diz o documento do Ipea.
Tudo somado, o instituto, que é o principal banco de cérebros da administração pública federal, propõe "um sistema público de emprego digno deste nome", para "articular as ações do seguro-desemprego, do retreinamento e da recolocação dos desempregados".
Reformas
Mas José Paulo Zeetano Chahad, assessor especial do ministro Paulo Paiva (Trabalho), entusiasta da proposta, adverte que tal sistema só terá efeitos plenos se inserido "numa amplo contexto de reformas estruturais", tanto nas relações de trabalho, como na Previdência Social e no sistema tributário.
O pacote do Ipea sobre mercado de trabalho se fecha com artigo de Carmen Lucia Evangelho Lopes, doutora em sociologia do trabalho pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora técnica da Força Sindical.
Nele, Carmen Lucia diz que "ainda é cedo para comemorar" recentes melhoras no nível de emprego formal. Motivo principal: "O emprego com carteira assinada só tem se expandido fora das áreas metropolitanas, especialmente na agropecuária".

Texto Anterior: Editais para celular saem em novembro
Próximo Texto: O que faz o sistema público de emprego
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.