São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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Filosofia passa por 'crise de complexidade'

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O pensamento filosófico moderno passa por um processo de volta à simplificação, de preocupação com questões do cotidiano. A avaliação foi feita pelos sociólogos franceses Edgar Morin, 74, e Michel Maffesoli, 52.
Os dois -mais Jean Baudrillard- estão no Rio participando do ciclo "Semana do Pensamento Francês", promovido pelo consulado francês e pelo Conjunto Universitário Candido Mendes.
"Há uma tendência à volta da discussão de problemas simples, mas esses problemas também são muito complexos", disse à Folha Michel Maffesoli.
Para Morin, há uma "crise da complexidade". "A inteligência desfalece diante do sistema de educação que nos ensina a separar a cultura humanística das chamadas ciências", disse segunda-feira à noite em palestra no Conjunto Universitário Candido Mendes (centro do Rio).
Mas novos caminhos começam a surgir: para o sociólogo, a ecologia seria um exemplo de um novo pensamento no qual a fragmentação é substituída por uma análise que leva em conta vários aspectos.
Para Morin, o pensamento fragmentado faz com que ninguém se responsabilize pelas grandes catástrofes, por exemplo. "Quem é o responsável pela tragédia do sangue contaminado distribuído nos hospitais, ou por Chernobyl? Esse é o desafio da complexidade, que a fragmentação deixa de lado."
Maffesoli, que acaba de lançar na França o livro "Elogio à Razão Sensível", questiona a interpretação do que chama de "filosofia tradicional", que, segundo ele, distingue razão de sentidos.
"Ao contrário, há uma integração entre razão e sentido. O trabalho do intelectual é voltar ao cotidiano, e o grande desafio é voltar ao pensamento orgânico, interessado nas questões antes consideradas 'pequenas' ", disse Maffesoli.
O sociólogo, autor de "O Tempo das Tribos" -sobre a "tribalização" das sociedades atuais- prepara um novo trabalho sobre o que chama de volta ao nomadismo.
"Nossa sociedade parece ser positiva, plena, bem administrada, mas na verdade não é. Isso leva a uma volta ao nomadismo -espiritual, sexual e trabalhista."
A hipótese de Maffesoli: a saturação dos padrões atuais faz com que as "tribos" busquem outras opções de vida. Um exemplo de "nomadismo trabalhista" seria a constante mudança de objetivos profissionais. "Não há mais aquela preocupação em continuar sempre na mesma carreira", disse.
Já o nomadismo espiritual teria como exemplo mais marcante o sucesso do escritor Paulo Coelho. "Isso é um indício da busca do que vem do além, do infinito. Há ainda a multiplicação de livros sobre anjos, sobre new age", afirmou.
E o nomadismo sexual? "Ao contrário do que se pensa, a Aids não é um problema. Num primeiro momento, o surgimento da doença refreou o ímpeto de nomadismo sexual, mas agora ele volta a existir", disse.

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