São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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RUMO À CIDADANIA GLOBAL

A marcha latino-americana que reuniu milhares de manifestantes em Washington, no último sábado, pode ser considerada não apenas um marco na sociedade norte-americana, mas sobretudo um indício das novas fronteiras que a democracia deverá desbravar nos próximos anos. Está em jogo a definição e a conquista de uma cidadania global.
Fala-se em "globalização", atualmente, com uma espantosa generalidade. Tudo parece ter sido globalizado: as comunicações, as finanças, os processos produtivos e mesmo os padrões culturais. Mais espantosa, entretanto, é a virtual ausência de conquistas no que se refere aos direitos que devem surgir à medida que ocorre o processo de globalização da força de trabalho.
A multiplicação e a diversificação dos fluxos migratórios nas últimas décadas é notável. Da miséria africana à dissolução econômica do Leste Europeu, passando pela "década perdida" na América Latina, foi gerada uma nova onda, reforçada pela necessidade crescente de mão-de-obra nas economias mais desenvolvidas que voltavam a crescer.
No Japão e nos EUA, em especial, a importância da força de trabalho latino-americana tornou-se emblemática, dando origem a novas legislações muitas vezes discriminatórias. Nos EUA, o fenômeno é a tal ponto generalizado que o próprio presidente Clinton, no início de seu mandato, teve de demitir uma auxiliar quando se comprovou que ela empregava mão-de-obra imigrante ilegal.
A marcha latino-americana sobre Washington foi um grito por direitos econômicos: pela simplificação dos procedimentos para aquisição de cidadania e por um piso salarial. Mas foi, antes de mais nada, um protesto contra o crescente sentimento antiimigrantes nos Estados Unidos, que como se sabe tem paralelos na União Européia e no Japão.
No centro da globalização, a xenofobia cria raízes. Há portanto uma contradição que será aliviada apenas com mais democracia.

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