São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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Barganha, o nome do jogo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Só mesmo muita ingenuidade justificaria imaginar que os governadores, reunidos anteontem em São Paulo, decidiram sem segundas intenções jogar o problema de suas dívidas para o mesmo foro, o Congresso Nacional, em que se vai discutir a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
No fundo, o nome do jogo é mesmo barganha, ainda que haja alguns governadores sérios o suficiente para não praticá-lo.
A barganha seria a óbvia: o Executivo atende o essencial das reivindicações dos governadores e eles orientam suas bancadas para aprovar a reeleição.
Mas é uma barganha de futuro no mínimo discutível. "Não terá consequência alguma", prevê o senador Esperidião Amin (SC), presidente nacional do PPB.
Por quê? Porque os governadores têm um poder de fogo muito relativo no Congresso e, em alguns casos, não têm poder algum.
Amin dá um exemplo concreto, objetivo e difícil de contestar: "Suponha que o Miguel Arraes (governador de Pernambuco) fosse a favor da reeleição. Não é, mas se fosse, imediatamente o outro lado ficaria contra".
O outro lado, no caso, são os partidos de oposição local a Arraes, que, aliás, têm mais congressistas do que o próprio Arraes.
De todo modo, o importante no caso é menos a eventual força da barganha desenhada e mais o fato de que, ao colocar a reeleição como um projeto importante para ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso ofereceu o flanco para todo tipo de proposta do gênero.
Qualquer um que estiver com unha encravada e não conseguir cura oferecida pelo governo federal vai gritar: é assim? Então vou ao Congresso pedir ao meu deputado que vote contra a reeleição.
Se essa pressão vai ou não funcionar, não sei. Mas que o jogo ficou claro, lá isso ficou.

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