São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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A igreja está firme e atuante

GERALDO MAJELLA AGNELO

Ninguém, hoje, fica indiferente perante as tomadas de posição da igreja, para as acatar ou criticar. Em muitas nações é ela a entidade de maior credibilidade perante a opinião pública, católica ou não.
O papa, embora criticado por alguns setores como intransigente e conservador, é o único homem público capaz de atrair milhões de pessoas à sua passagem. É o homem público de maior força moral, com coragem de enfrentar governos e Parlamentos em defesa de valores que eles querem destruir.
Mas, afinal, o que faz a Igreja Católica ser uma das mais vigorosas instituições do mundo, que, a despeito de tão grandes transformações, se mantém há 2.000 anos firme e atuante?
É que a igreja possui, acima de tudo, uma mensagem -o Evangelho- cujos princípios éticos continuam a ser o grande desafio do ser humano. Foi esse conteúdo valorativo que tornou a igreja o que ela é e, se ainda hoje ela influi na vida de milhões de criaturas, é porque a esperança de afirmar a dignidade da vida humana permanece viva na mente e no coração de grande parte dos fiéis que procuram vivenciar a solidariedade no seu dia-a-dia. Somente com o testemunho é que podemos afirmar os valores éticos cristãos, e a história da igreja tem sido o valor desse testemunho.
Não existe igreja no ar, só no campo das idéias. Ela é uma realidade divino-humana e, sob o aspecto humano, ela se concretiza nos homens. Assim, igreja somos nós. São as famílias cristãs e os grupos juvenis. São os movimentos de espiritualidade e de voluntariado. São também os missionários que deixam suas famílias, sua terra, seu comodismo e vivem a dura realidade dos povos subdesenvolvidos, uma madre Teresa, João Paulo 2º, que percorre o mundo inteiro afirmando os valores da paz, da vida e do espírito. São os que trabalham em nossos colégios, hospitais, asilos e creches espalhados por todo o mundo, manifestando o amor de Deus por meio da caridade e da promoção do ser humano. Também é igreja o pobre que sabe ser amigo do seu vizinho e o que é vítima de racismo e que responde à ofensa com o perdão.
O compromisso da igreja é com a dignidade da vida humana. Portanto não poderá aceitar as formas de opressão, violência e miséria que inviabilizam o bem individual e o coletivo. Como instituição universal, deve se empenhar para que sejam minimizadas as aberrações que provocam as injustiças e as perversidades existentes no mundo, tanto do ponto de vista social como do moral e espiritual.
Sob o aspecto social, a igreja reafirma a disposição de trabalhar conjuntamente com as forças da sociedade livremente organizada e dos poderes temporais constituídos para promover ações capazes de erradicar definitivamente a miséria no planeta.
Do ponto de vista moral, a igreja considera o individualismo exacerbado, o consumismo ilimitado, o utilitarismo pragmático, o imediatismo irresponsável, a cultura do descartável e, principalmente, o hedonismo como práticas que ferem os princípios éticos cristãos, distanciando as pessoas umas das outras, acirrando o egoísmo e os ódios incontáveis, enfim, afastando os seres humanos da solidariedade e do afeto, necessários para uma convivência menos aterradora.
Finalmente, sob o prisma espiritual, a igreja reforça a fé na salvação do homem, quando cada um de nós for capaz de se libertar dos condicionamentos que nos amesquinham diante do próximo e de Deus, e quando o mandamento maior de Cristo for vivenciado por todos, com verdadeira intensidade.
Por defender os valores que dignificam a vida humana é que a igreja permanece viva e atuante.

D. Geraldo Majella Agnelo, 62, é arcebispo emérito de Londrina (PR) e secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no Vaticano.

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