São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Revista aposta na simplicidade

CELSO PINTO
DO CONSELHO EDITORIAL

Dizem as más línguas que a "Economist" descobriu fórmula infalível para lidar com temas econômicos intratáveis: "simplifique, e depois exagere".
Maldade, é claro, mas com uma ponta de verdade. Um dos fascínios exercidos pela revista em seus leitores é sua capacidade de transformar qualquer questão econômica complexa em algo digerível para o leitor médio. Outro, a facilidade com que a revista mostra o que é certo e errado em qualquer assunto -e apóia o certo.
Como a economia não é ciência exata, nem sempre funciona. No início dos anos 90, por exemplo, a "Economist" insistia que a libra deveria juntar-se ao sistema de câmbio quase fixo europeu, que engessava a cotação em relação às outras moedas da região.
Quando isso aconteceu, a reunificação da Alemanha obrigou seus parceiros europeus a jogarem os juros na lua, provocando recessão e desemprego, para defender a cotação de suas moedas.
Como era previsível, muitas vozes pediram a retirada da libra do sistema e a desvalorização cambial. A "Economist" lutou bravamente contra. Desvalorização, dizia a revista, significaria apenas mais inflação, menos credibilidade do governo e, portanto, menos crescimento (soa familiar?).
Quando a especulação dos mercados, em 92, acabou obrigando a libra a sair do sistema, ela sofreu uma forte desvalorização. Só que seguida de anos de crescimento com inflação baixíssima.
A revista, em 150 anos de história, jamais abandonou os princípios de liberalismo comercial, o que leva a algumas posições econômicas previsíveis, mas que podem surpreender em outras áreas.
Até hoje, por exemplo, é difícil para muitos leitores da revista aceitar a veemência com que ela defendeu a legalização de drogas leves. A razão: Al Capone, segundo a "Economist", só existiu devido à Lei Seca. Quando a bebida passou a ser produzida por empresas, afastou-se o interesse das máfias e reduziu-se o crime. Por que não fazer o mesmo com a maconha?
O fato é que a revista é imensamente influente. Ela tem opiniões definitivas sobre tudo, mas jamais deixa de cercá-las com uma riqueza de dados e fatos, o que a torna útil e estimulante até para quem discorda de 90% de suas certezas.
Acima de tudo, ela é, talvez, a "news magazine" mais bem escrita do mundo. A "Economist" é a prova definitiva de que seriedade não é sinônimo de mau humor.

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