São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Herbert Vianna faz letra para Renato Russo

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Comemorando as 400 mil cópias vendidas do novo disco, "9 Luas", e o estouro da música "La Bella Luna" no mercado latino-americano, os Paralamas do Sucesso voltam a tocar em São Paulo, depois de uma turnê pelos EUA.
O show, de 18 a 27 de outubro, no Olympia, foi montado em cima do novo disco -dez músicas de "9 Luas" estão no repertório.
No mais, a banda tocará pela primeira vez quatro músicas acústicas, libertando-se do estilo "porrada" que imprimia aos shows.
Presentes, ainda, a música "Mangue Town" (parceria de Herbert e Chico Science, composta numa jam session na Europa), "Alagados" e "Meu Erro".
"Temos 11 discos, mais de cem música gravadas, grandes sucessos como 'Óculos', mas essas duas não podem faltar", explica Herbert.
Herbert promete prestar uma homenagem sem discursos ao amigo de infância Renato Russo, morto recentemente: estão no show "Ainda é Cedo" e "Veraneio Vascaína".
A lembrar, os Paralamas foram os primeiros a gravar uma música de Russo, quando este ainda perambulava com o Aborto Elétrico pelo Planalto Central -um dos primeiros hits dos Paralamas, "Química", era de Russo.
Em entrevista pelo telefone do Rio, Herbert Vianna fala do show e lembra do amigo morto -leia ao lado letra inédita que Vianna fez homenagem a Russo, ainda sem título e que Marina deve gravar
*
Folha - Arnaldo Antunes deu um show recentemente em São Paulo e se notava, na platéia, crianças sentadas ao lado de punks, adolescentes e senhores grisalhos. Seu público também se ampliou?
Herbert Vianna - A gente tem a tendência de ignorar o público, tendemos a não reparar para não manipular nosso som para um lado ou outro. O preço é alto. Às vezes deixamos de tocar uma música que agrada a um tipo de público. Tocamos o que gostamos. Mas, no panorama geral, a gente nota como está jovem o público, de 13 a 14 anos.
Folha - É um público MTV?
Vianna - MTV Brasil, que é genial e mudou o formato do rádio. Tocam coisas no rádio que não tocariam se não fosse a MTV. Já a MTV americana está péssima, com gincanas entre garotos e garotas, competições. A MTV latina é legal. Mescla grupos latinos. Emplacamos o segundo lugar nela, com "La Bella Luna".
Folha - Vocês ficaram mais MPB?
Vianna - Passei pelo processo de adaptação da língua. No começo, eu tinha as referências estrangeiras. O Roger (Ultraje a Rigor) é quem lançou, nos anos 80, um rockão com a brejeirice da língua portuguesa. Nosso disco "Severino" é extremamente brasileiro. Não preciso mais provar que somos brasileiros.
Folha - O Brasil voltou a estar em alta?
Vianna - Não é possível que haja tanta coisa no Brasil que não possa ser usada. Chico Science e Carlinhos Brown são os dois grandes fatores deste momento. Hoje, a música da molecada é o padrão que já foi incorporado ao ritmo brasileiro. Os Paralamas relaxaram. A gente quer fazer canção, melodia tocada no violão.
Folha - E a morte do Renato Russo?
Vianna - Fiquei profundamente triste. Conheci o Renato quando ele tinha 11 anos. Sempre teve um senso de inadequação. Não fazia parte deste mundo. No fundo, você fica aliviado com a morte dele. Ele escolheu isso. Em Brasília, ele escrevia desde pequeno biografias fictícias de bandas, capas de discos. De repente, o personagem da banda se separava, e ele escrevia sobre a trajetória do cara.
Folha - Qual o segredo da duração dos Paralamas?
Vianna - Amizade e senso de profissionalismo. Temos diferenças pessoais. O Bi (Ribeiro) é mais fácil, engraçado, entusiasmado. Eu e o João (Barone) somos mais difíceis. Posso ser irritante, pela minha obstinação, mas onde vou arrumar outros caras tão bons? E quando saímos para beber, somos os melhores amigos do mundo.

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