São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Chegam os estrangeiros

CELSO PINTO

Existe uma revoada de bancos estrangeiros que estão entrando no mercado financeiro brasileiro com instituições próprias. Não há interesse por grandes bancos de rede, como o Banespa, mas o mercado financeiro está cada vez mais atraente e competitivo.
A Merrill Lynch, maior corretora americana, já está autorizada e vai transformar a pequena distribuidora de títulos e valores que tem no Brasil em banco múltiplo no próximo mês. Embora, como banco múltiplo, ela possa vir a operar em todas as áreas, seu objetivo é atuar, basicamente, como um banco de investimentos.
O Morgan Stanley e o CS First Boston, dois grandes rivais da Merrill nos Estados Unidos, também estariam, pelo que se sabe, pensando em comprar uma instituição financeira no Brasil. A Salomon Brothers, outro gigante americano no setor, criou um banco múltiplo, o Patrimônio, no ano passado. O JP Morgan aumentou o capital de seu banco no Brasil.
Outro banco de investimentos americano, a Bear Stearns, que tem um escritório no Brasil, está pensando, segundo seu diretor-gerente, Nicholas Reade, em montar uma instituição financeira, talvez uma distribuidora, que permita operar diretamente no mercado.
Os europeus também redescobriram o Brasil. O Banque Nationale de Paris (BNP), que tinha apenas um escritório, comprou o direito de abrir um banco e está em processo de concretizá-lo. O Crédit Commerciale de France (CCF), comprou o Montreal Bank, há dois anos, para poder operar integralmente no Brasil. Ele é citado como franco comprador no mercado, para expandir suas operações.
O gigante alemão Deutsche Bank comprou o britânico Morgan Grenfell há alguns anos. No Brasil, contudo, o Morgan tinha apenas um escritório. Não mais: os dois se uniram e viraram o Deutsche Morgan Grenfell no Brasil, criaram um banco de investimentos, contrataram com apetite (inclusive uma equipe inteira de analistas do holandês ING Barings) e estão em plena expansão.
O francês Indosuez comprou, no ano passado, uma distribuidora que era do Mitsubishi. Não porque o Mitsubishi estivesse saindo do Brasil, mas porque juntou-se ao Banco de Tóquio, no Japão, que opera no Brasil, e não precisava mais de uma distribuidora específica.
Os suíços são cautelosos, mas estão dando sinais de vida. O Union des Banques Suisses (UBS), que estava distante do Brasil, está mais próximo. Fez algumas contratações e está germinando idéias. Um grande banco europeu que, comenta-se no mercado, está sondando oportunidades de compra no Brasil há algum tempo é o espanhol Santander.
A maneira de conseguir o direito de operar varia caso a caso. A Merrill, por exemplo, tinha a carta-patente da distribuidora há dez anos, mas a deixou "dormindo" até há dois anos. A Merrill pediu, e obteve no Banco Central, uma transformação da distribuidora em banco múltiplo. Como não se trata da entrada de novo banco, ou expansão das agências de banco estrangeiro já existente, a autorização não fere a Constituição e não precisa de um decreto especial do presidente da República.
A Merrill é responsável, hoje, por 16% do giro das ações na Bolsa de Nova York e tem uma presença forte no mercado acionário brasileiro. Por essa razão, mesmo tendo uma instituição local, a Merrill vai continuar usando outras instituições para comprar e vender parte das ações no Brasil, uma forma de evitar que as atenções do mercado se concentrem sobre seus movimentos.
Os bancos de investimento estão interessados, principalmente, em negócios com empresas, fusões e aquisições, operações com derivativos, engenharias financeiras, assessoria em privatizações etc. Mas existem algumas instituições americanas, inclusive não financeiras, interessadas em outras áreas no Brasil, como crédito ao consumidor.
O governo gostaria de usar todo esse interesse para encontrar compradores para bancos de varejo quebrados, especialmente os estaduais. Só que não é esse o perfil de interesse dos estrangeiros.
Mesmo que o aumento da competição, via bancos estrangeiros, não esteja chegando ao cliente de varejo final, é uma boa notícia.

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