São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Fuga fácil incentiva reincidência, diz juiz

DANIELA FALCÃO
DA ENVIADA A SETE LAGOAS (MG)

A maior queixa dos juízes da Infância e Juventude em relação ao combate à delinquência juvenil é o alto índice de reincidência entre os menores que praticam infrações.
Em Estados como Minas Gerais e Pernambuco, mais da metade dos adolescentes que aguardam julgamento já foi detida pelo menos uma vez.
"Já peguei casos de meninos que estavam praticando o 20º furto", diz o juiz Geraldo Dorna, do Juizado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte.
"Nessas situações, mesmo não havendo violência, a gente acaba determinando que eles sejam internados. As outras medidas não estavam dando certo. Serve como um alerta, um susto", afirma
Segundo Dorna, a facilidade com que os adolescentes fogem dos centros de internação contribui muito para a reincidência.
"Eles sabem que fugir é fácil e ficam sem medo de serem detidos. Por outro lado, como ficam pouco tempo internados, não há tempo hábil para tentar qualquer tipo de reabilitação", diz Dorna.
Os juízes criticam também a ineficiência das oficinas profissionalizantes e do ensino formal.
Em vez de ensinar aos adolescentes ofícios em que haja demanda de mercado (como pedreiro e office boy), os centros oferecem oficinas de tapeçaria ou silk screen, como é o caso de Sete Lagoas (MG).
"Aprender tapeçaria é muito mais terapia ocupacional do que curso profissionalizante. O adolescente infrator já encontra dificuldades enormes para sair da marginalidade. Se ele não aprender uma profissão de verdade, se não sair dos centros completamente alfabetizado, as chances de readaptação social passam a ser mínimas."
Nos centros com fugas constantes, o trabalho dos professores é prejudicado pelas interrupções.
"Como é que um adolescente analfabeto vai aprender a ler com duas horas diárias de aula, se ele não ficar internado pelo menos uns três meses?", questiona Maria Auxiliadora Vaz, diretora psicopedagógica do centro de internação de Sete Lagoas.
"Estamos tentando manter os meninos que não sabem ler no regime fechado, onde a fuga é bem mais difícil, para ver se conseguimos algum resultado", afirma.
Outra reclamação constante dos juízes é a falta de centros específicos para os adolescentes com problemas psiquiátricos e mentais, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente.
"Nós só temos duas opções: ou mandamos o menino fazer diariamente o tratamento numa clínica, acompanhado de um monitor para que ele não fuja, ou ignoramos seus problemas e o deixamos junto aos demais", diz o diretor do maior presídio de adolescentes de Pernambuco, o capitão da PM José de Oliveira Gomes.
(DF)

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