São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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Livro explora língua do Cafundó aliando o poético ao acadêmico
CASSIANO MACHADO
"Cafundó - A África no Brasil" chega às livrarias esta semana com qualidade acadêmica e tempero poético. Carlos Vogt e Peter Fry, autores do livro, pesquisaram por dez anos a comunidade composta por 80 descendentes de escravos falantes de uma "língua africana" formada por 150 palavras. O "elo perdido" sobre o qual os autores se debruçaram foi: "por que cargas d'água a comunidade continuou a utilizar esse léxico?". Passando por diversos campos das ciências humanas, a pesquisa se direcionou para a antropologia da linguagem- Vogt, que já foi reitor da Unicamp, é linguista; o inglês Peter Fry, antropólogo. O material coletado poderia ter se concretizado em um hermético compêndio antropológico. Porém, no processo de lapidação, o livro ganhou contornos poéticos. A riqueza cultural das personagens principais do livro, integrantes de duas famílias cafundoenses, Pires Cardoso e Almeida Caetano, emblematicamente chamados de a formiga e a cigarra, contribuiu para o feitio literário. Para a "língua africana", chamada de cupópia, caneta é "tenhora da mucanda", algo como enxada da escrita. A pesquisa, que também mapeou outras comunidades com características semelhantes às do Cafundó, concluiu que a concessão de terras dos senhores a seus escravos alforriados não era incomum. Segundo os autores, uma das questões mais difíceis foi entender como até 1978 ninguém havia "descoberto" Cafundó -a apenas 150 km de São Paulo. O que, para Vogt, metaforiza a questão do negro no Brasil. (CEM) Livro: Cafundó - A África no Brasil Autores: Carlos Vogt e Peter Fry Preço: R$ 26 (373 páginas) Texto Anterior: Mulheres e sangue dão o tom em "Depois do Anoitecer" Próximo Texto: Paulistano descobre ostras do Itaguaré Índice |
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