São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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"Emma", o filme, é convite a "Emma", o livro
INÁCIO ARAUJO
Mas quebra o galho do cineasta, quando ele não sabe o que fazer com a imagem. Nesse caso, basta fazer como o diretor de "Emma", Douglas McGrath: subir a grua até encontrar uma copa de árvore. A vantagem é que esse movimento, mesmo imotivado, não desagrada aos olhos. Não desagradou, em especial, aos olhos dos americanos, já que o filme firmou-se como sucesso nos EUA, após um início de carreira tímido. O filme marca a estréia do roteirista McGrath na direção. E o fato de ser um escritor de peso ("Tiros na Broadway", de Woody Allen, ganhou o Oscar de melhor roteiro original, aliás com justiça) e de colaborar com publicações importantes deve ter ajudado na boa repercussão que "Emma" obteve. No entanto, McGrath ainda sofre no trato com a imagem. Aos movimentos inúteis, sucedem-se momentos estáticos, em que os personagens permanecem fixos, como estátuas. A estes, sucedem marcações ingênuas, mecânicas. É verdade que nem isso, nem o tratamento desigual dado aos personagens -às vezes parece que estamos vendo uma versão de "Chapeuzinho Vermelho"- bastam para destruir a sutileza dos diálogos e das situações. É o ponto forte do filme, em que a sofisticada Emma (Gwyneth Paltrow) assume a função de casamenteira. Sua protegida é a ingênua Harriet (Toni Collette). Emma ora procura distanciar Harriet de um pretendente, por julgá-lo não estar à altura da amiga, ora tenta aproximá-la de algum outro. Trabalha no interior de códigos sociais, embora o coração dos interessados não se fixe neles. Em "Emma", esses movimentos do coração não são radicais. Não existe o grande amor que transpõe diferenças sociais. Em compensação, o amor que existe navega sutilmente entre razão e sentimento, fixa-se em objetos inesperadamente, escoa-se também sem dar explicações. Daí a facilidade de se perder na operação. Em relação a Harriet, mas também a si mesma, Emma é capaz de não enxergar um palmo adiante do nariz. Daí também vem o interesse da coisa. O filme resiste à fragilidade de uma direção que com frequência infantiliza a Inglaterra, abusa de ênfases desnecessárias, cria desigualdades entre os atores. É um convite a ler o "Emma" de Jane Austen. Já é alguma coisa. Filme: Emma Direção: Douglas McGrath Com: Gwyneth Paltrow, Toni Collette, Ewan McGregor, Greta Scacchi Quando: a partir de hoje nos cines Butantã 3, Morumbi 6, Eldorado 6 e Bristol Texto Anterior: Barreto acerta a mão em 'Atos de Amor' Próximo Texto: Começa festival das descobertas tardias Índice |
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